Discórdia entre os sábios
O Sábio da Montanha existe desde que o mundo é mundo, atestam os mitos e folclores de várias partes do mundo. Por ser mais elevado espiritualmente do que os homens comuns, na geografia também vive acima. Ele está longe da mundanidade, afinal, mal precisa disso, jejua a maior parte do tempo e medita solitário por dias.
Tudo funcionou assim durante milênios, morria um sábio e o Conselho de Sábios (Consá) enviava outro. Como o século 21 não dá mole para ninguém, recentemente houve uma cisão. O sábio escolhido disse que não seria preciso estar apartado dos homens para ser sábio. Então o Sábio da Montanha desceu e foi para a praia, iniciando o ciclo do "Sábio da Praia".
Fora a barba longa, muita coisa mudou com o Sábio da Praia. Jejum, por exemplo, nem pensar. Trocou a túnica de cashmere pela bermuda, havaianas, e anda a maior parte do tempo sem camisa. Além disso, pasmem, bebe cerveja. Ninguém me disse, eu vi. Até perguntei para o Sábio da Praia se é sábio tomar cerveja.
De manhã, o sábio praiano dá conselhos espirituais para ganhar o que gasta no armazém. Quando está muito quente fica na rede, fruindo do que ele diz ser o dom supremo que o homem recebeu do Criador: exercer a preguiça. Na tardinha sai para prosear com os amigos, jogar sinuca, saber das fofocas e tomar uma ceva.
E você, caro leitor, na hora de escolher sábios conselhos, qual dos dois vai procurar? _
MÁRIO CORSO
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