Trump nomeia birutas, vigaristas e Musk, que promete acabar com um terço do governo
Indicações incluem um ministro da Defesa da Fox News e outro que brinca com urso morto
Donald Trump indicou Robert F. Kennedy Jr para o departamento (ministério) da Saúde. Kennedy é antivacina e difunde teorias da conspiração variadas. Em 2014, largou um cadáver de filhote de urso no Central Park, Nova York. Achou divertido. Dizia ter encontrado o bicho por aí, atropelado. Talvez o comesse.
Kennedy tem ficha extensa de biruta. É advogado, ambientalista. Foi candidato independente a presidente neste ano. Era democrata. É filho de Bobby Kennedy, senador assassinado em 1968. É sobrinho de John Kennedy, assassinado em 1963.
A imagem mostra um evento político ao ar livre. À esquerda, um homem com cabelo claro e terno escuro, sorrindo. À direita, um orador com camiseta preta e boné, levantando o braço em um gesto de empolgação. Entre eles, um grande cartaz azul com as palavras 'TRUMP VANCE' e a frase 'MAKE AMERICA GREAT AGAIN! 2024'. O fundo apresenta uma estrutura de construção.
O CEO da Tesla, Elon Musk, discursa em um palco ao lado do presidente eleito Donald Trump durante evento de campanha do republicano em outubro - JIM WATSON/AFP
Diz que grandes empresas de remédio e comida se dão bem com o governo. Mas quem vai acreditar nele? Trump acreditou, por outro motivo. Kennedy diz que vai bulir com o "Estado profundo" das agências do departamento de Saúde (que regulam comida, remédios e bancam enormidade de pesquisa científica). Há mais gente biruta e/ou vigarista nomeada para o primeiro escalão de Trump, como um ministro da Defesa que é apresentador da Fox News.
Trump chamou Elon Musk e Vivek Ramaswamy para o governo. Ramaswamy criou uma grande empresa biofarmacêutica, foi pré-candidato a presidente pelo Partido Republicano e critica a responsabilidade social de empresas, "ideologia de gênero", "identitarismo" etc.
Não se sabe qual autoridade terão nisso que Musk chamou de "Departamento da Eficiência do Governo", que ora inexiste. Trump afirma que eles vão acabar com o excesso de regulamentação e remontar as agências do governo.
Musk diz que dá para cortar US$ 2 trilhões do gasto federal. A despesa foi de US$ 5,86 trilhões no ano fiscal de 2024, encerrado em setembro. Essa conta não inclui gasto com juros (de US$ 892 bilhões). Supõe-se que Musk não queira dar calote nos juros. Ou não?
Logo, Musk propõe corte de 34% da despesa primária do governo. Claro que é biruta, vigarice. Parece coisa de ministro de Jair Bolsonaro, que dizia ter meios de arrumar R$ 1 trilhão para o governo, inclusive vendendo terreno em Mumunhoca da Serra.
Do gasto, 16,3% foram para despesas de defesa. Juntando aí pelo menos o departamento de Veteranos de guerra, dá uns 22% do total. O gasto com saúde pública foi de 28,7% da despesa primária total. Com Seguridade Social ("INSS"), 24,9% (mas Trump prometeu tirar os impostos sobre benefício previdenciário: mais déficit). Musk quer fechar o governo.
Os déficits são de fato problema grave, mesmo para um país riquíssimo e no qual, desde 2008, o Banco Central, o Fed, pôde dar uma mãozona para financiar o buraco, um escândalo imperial.
A dívida pública equivale agora a 97,8% do PIB, a maior desde 1900, afora a dos anos de 1945 e 1946, do esforço de guerra. Em 2000, a dívida era de 33,7% do PIB. Deu um salto por causa da Grande Recessão (2008-09) e dos gastos para limpar a sujeira da finança; deu outro salto por causa da Covid.
Os donos do dinheiro grosso, dos EUA e do mundo, e governos não têm alternativa maior e melhor a não ser emprestar parte de seus fundos para o governo americano (é grotesco e delírio "Sul Global" que o dólar vá ceder lugar para a moeda da China). Mas déficits e dívida brutais do EUA aumentam o risco de choques perigosos na finança mundial, para começar.
Trump promete políticas que causarão mais déficit e dívida, apesar de Musk, por assim dizer. Se cumprir seu programa, esse é só o começo da loucura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário