quarta-feira, 20 de novembro de 2024


20 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

A inofensiva fotinho do perfil

WhatsApp é como carteira de identidade, é como habilitação de motorista. Deveríamos colocar no perfil uma foto básica de identificação para o outro descobrir com quem está conversando.

Seguiríamos o exemplo daquelas 3X4 que fazemos para os documentos, com a diferença de que poderíamos rir ou olhar para os lados.

Seria uma forma de facilitar a localização dos contatos na agenda. A regra é se declarar de cara, sem demandar muito esforço, sem suspense, para uma comunicação imediata.

Mas tem gente que não entende a natureza do aplicativo, esquece que não se encontra dentro de sua bolha de conhecidos, e escolhe imagem de seu cachorro, de seu gato, de seu filho, de um lugar paradisíaco na fotinho.

É bonito homenagear um amor ou uma paisagem de sua preferência, mas talvez o ambiente e o momento não sejam apropriados. A situação prejudica aprovações de um número, que pode ser bloqueado como engano, como golpe, como contato comercial indesejado.

Isso quando não é um rosto enfiado num boné, ou um detalhe do corpo, tipo close das sobrancelhas ou de uma tatuagem. Isso quando não é a família inteira reunida, e não há como definir o dono da linha na multidão.

Isso quando não aparece um avatar, um bonequinho desenhado a partir dos traços do sujeito, o que tampouco ampara a memória alheia. Isso quando não emerge o semblante de um ator ou atriz, de um personagem do cinema, entregando referências de entretenimento, mas pouco informando as intenções de proximidade.

Isso quando não há fotografia nenhuma, o que é característico de contas de famosos, de quem não quer se expor e se esconde em excêntrico anonimato. Compreenda que, ao entrar na rede pública, numa ferramenta aberta, você saiu de casa. Você está na rua. E não é adequado passear com a aparência desleixada.

É como apertar a campainha ou o interfone de uma pessoa, que vai espiar quem é pelo olho mágico e não abrirá as trancas para qualquer um.

Você tem a obrigação de se apresentar educadamente. É uma premissa básica da convivência, uma formalidade mínima. Que mostre o seu nome e a sua feição, para prevenir confusões, para não ser deletado antes de ser capaz de explicar a sua procedência.

Por mais que o número do celular seja pessoal, privado, todo mundo acaba usando o WhatsApp também para o trabalho. E o que desponta com frequência é um ectoplasma da intimidade, um recorte misterioso de um universo interior.

Não é um espaço para indiretas ou poesia, para brincar de charadas, para propor telepatia ou jogo de adivinhação. É o novo cartão de visita. É o novo passaporte digital.

A primeira impressão é a que fica. Você estará trocando mensagens com um possível cliente que terá que suportar sua foto de sunga com estampa amazônica na praia. Convenhamos, não é uma cena promissora para fechar negócios. Aliás, não é possível reconhecer ninguém de sunga. 

CARPINEJAR

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