Os riscos do "pacote pronto" de Haddad
Segue a longa espera pelo pacote de corte de gastos, que agora não vem antes de amanhã, mas provavelmente fique para quinta-feira. E não só porque o 20 de novembro foi transformado em feriado nacional, Dia de Zumbi e da Consciência Negra. Para essa data, está prevista a reunião bilateral entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Xi Jinping.
No domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o pacote "está fechado com o presidente". Mas também disse que "está faltando a resposta de um ministério", mais tarde identificado como o da Defesa. É a própria contradição em termos: está pronto, mas espera resposta.
Embora se especule que a contribuição da Defesa seja mais simbólica do que represente cifras robustas, fica a incerteza.
Um dos pontos em discussão seria o fim do pagamento de pensão para a família de militares expulsos das Forças Armadas por crimes cometidos ou mau comportamento, mecanismo conhecido como "morte ficta".
No mercado, valor é maior expectativa
Então, o pacote não parece realmente pronto, o que já provoca indagações. A Defesa vai mesmo contribuir? E entra ou não a essa altura famigerada pensão para filhas solteiras?
E ainda resta a questão crucial para o mercado: qual será o valor dos cortes. A expectativa já foi de R$ 60 bilhões, quando o anúncio começou a demorar caiu à metade.
No final da semana passada, voltou a subir: agora se especula que a redução de despesa possa chegar a R$ 70 bilhões. A cifra teria sido sinalizada por Haddad aos comandos da Câmara e do Senado, na antecipação das medidas feitas para ganhar apoio à aprovação da proposta de emenda constitucional e do projeto de lei que devem permitir a redução de despesas.
Desse valor, R$ 30 bilhões seriam cortados em 2025 e outros R$ 40 bilhões, em 2026. A principal mudança será a limitação do aumento real (acima da inflação) do salário mínimo a 2,5%, mesmo ponto de corte de despesas adotado no arcabouço fiscal.
Depois que circulou essa versão, há outro risco contratado: se tamanho dos cortes decepcionar, o dólar tende a voltar a subir. Ontem, ainda mantendo fé no pacote, fechou em baixa de 0,74%, cotado a R$ 5,747. Se voltar a subir, vai representar mais inflação, mais juro e aumento ainda maior no custo da dívida. _
Milei cede, Lula vence
Depois de muita especulação, a diplomacia brasileira obteve vitória ao produzir uma declaração final do G20. Era um teste crucial para ambição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como líder global. O presidente da Argentina, Javier Milei, chegou com cara de poucos amigos, mas demostrou de maturidade ao não barrar o documento, que precisa ser aprovado por consenso.
O desfecho bonito, em oposição às caras feias do cumprimento oficial teve precedente no recuo da Argentina sobre outra vitrine de Lula, a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, iniciativa para tentar eliminar problemas até 2030.
Se quisesse "causar", Milei teria provocado o fracasso diplomático da presidência brasileira do G20, que se encerra com a reunião de cúpula. Surpreendendo a todos, nem sequer fez questão de introduzir ressalvas por escrito.
A construção do consenso passou por ginásticas verbais - o G20 passa a defender a taxação de "altíssima renda líquida", em vez de "grande fortunas". Também se discute quais foram as outras moedas de troca. É bom ter em conta, ainda, que a declaração tem apenas palavras. O G20 não tem enforcement (palavra em inglês para se referir à capacidade de fazer cumprir uma decisão). _
A responsabilidade da concessionária
Mesmo que a origem da cratera aberta na freeway nas imediações de Glorinha não seja "culpa" da concessionária, é de sua responsabilidade.
Usuários que pagam R$ 22 para ir e voltar do litoral ficaram horas retidos em congestionamento. Em Estado em que o pedágio enfim havia se tornado um custo melhor compreendido, é um tiro no pé de todo o sistema de concessão. A prevenção de problemas, especialmente em períodos em que é possível prever movimento intenso na estrada, faz parte do contrato. _
Mercado ainda não chancela "juraço"
A percepção de que pode ocorrer uma alta no juro básico de 0,75 ponto percentual, de uma só vez, ainda não é majoritária. No Relatório Focus do Banco Central (BC), a maioria dos economistas consultados espera que o ano se encerre com a Selic em 11,75%. Para isso, basta uma alta de 0,5 ponto na reunião de 11 de dezembro.
No entanto, a projeção para 2025 subiu 0,5 ponto percentual de uma semana para a outra, e está agora em 12%. Novas elevações podem ficar para o próximo ano. Ou é o "atraso" típico do Focus.
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