quinta-feira, 7 de novembro de 2024


07 de Novembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Cinturões da Ferrugem e do Sol foram decisivos para Trump

Foi uma avalanche, ou, como estão dizendo os americanos, uma tempestade de votos. Donald Trump volta à Casa Branca depois de um hiato de quatro anos de gestão democrata. Sua vitória foi mais rápida e mais avassaladora do que previam as pesquisas e os analistas.

Como diz a tradição na política americana, não adianta ganhar em muitos Estados, é preciso ganhar certo. Trump ganhou em muitos e certos.

Seu triunfo se deve, principalmente, a duas regiões fundamentais do território americano, o Rost Belt (Cinturão da Ferrugem) e o Sunny Belt (Cinturão do Sol). No primeiro, Trump só não venceu em Illinois. Levou Indiana, Ohio, Wisconsin, Pensilvânia e Michigan. Nesses três últimos, Joe Biden havia vencido em 2020.

No Cinturão do Sol, a faixa sul do território americano, o republicano também foi avassalador: levou do Texas à Flórida, passando pela decisiva Geórgia, onde os democratas também tinham vencido quatro anos atrás. Dos swing states (Estados-pêndulos), só não ganhou na Virgínia, onde Kamala Harris ficou na frente com diferença de cinco pontos percentuais. A democrata também vai perder no Arizona e no Nevada, outros dois locais que foram fundamentais para Biden em 2020.

Não foi uma tempestade Trump que varreu a América. Foi uma tempestade republicana. O partido leva também o Senado e a Câmara.

Como se vê, algo mudou nos EUA nos últimos quatro anos. Nessas regiões, o comportamento do eleitor foi bem diferente. A economia falou mais alto - a perda de poder aquisitivo e a inflação transformaram o pleito do dia 5 de novembro de 2024 em um referendo sobre a gestão democrata. O americano votou com o bolso. _

Este mandato de Donald Trump será o último, isso porque ele não poderá se candidatar à reeleição. Diferente da legislação brasileira, um presidente americano só pode ficar no poder por apenas dois mandatos, indiferente de intervalo entre os períodos.

O novo governo e a geopolítica

Potência hegemônica do sistema internacional, ainda que cada vez mais questionada, os EUA costumam ser fiadores da paz ou da guerra. Por isso, a eleição americana costuma mover as placas tectônicas da geopolítica.

Os primeiros impactos da vitória do republicano Donald Trump serão sentidos nas guerras entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio.

O republicano costuma se gabar de que, com seu suposto poder de persuasão, irá impor a paz. Mas a verdade é que, ao cessar o apoio financeiro e bélico americano à resistência na Ucrânia, selará o destino do país. Vladimir Putin ganhará a guerra, provavelmente consolidando a anexação dos territórios ucranianos já ocupados, no leste do país.

Outro beneficiário da volta do republicano à Casa Branca será Benjamin Netanyahu. Também próximo de Trump, o primeiro-ministro israelense deve receber carta verde para seguir com as operações militares na Faixa de Gaza e no Líbano.

Joe Biden prestava um apoio comedido (por vezes crítico) a Israel. A vitória de Trump, inclusive, pode aprofundar o conflito para o Irã. Foi no último ano da primeira gestão Trump, inclusive, que o governo americano decidiu pela eliminação do general iraniano Qassem Soleimani. O republicano, agora, pode terminar o serviço - leia-se, mudança de regime. Não sem sangue. _

Relação com o clima

A vitória de Trump joga uma nuvem de ceticismo sobre a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP29), que começa na segunda-feira em Baku, no Azerbaijão.

O primeiro efeito imediato do republicano nos debates ambientais deve ser a retirada dos EUA do Acordo de Paris, no qual os países se comprometeram com metas para evitar que a temperatura média do planeta suba 1,5°C.

Trump já retirou o país do tratado internacional em 2017 e prometeu que o fará de novo. Maiores emissores de gases de efeito estufa, logo maiores poluidores, os EUA haviam retornado ao acordo com Joe Biden em 2021.

Além disso, há séria preocupação sobre o financiamento climático, uma vez que Trump deve apertar o cinto dos gastos.

Os governos concordaram, em 2010, que países desenvolvidos destinariam US$ 100 bilhões por ano até 2020 para ajudar nações em desenvolvimento a gerir melhor os impactos climáticos e pagar por medidas para se afastarem dos combustíveis fósseis e se aproximarem dos renováveis.

Isso foi na COP16. Na COP21, em 2015, o Acordo de Paris estabeleceu que os países desenvolvidos continuariam a mobilizar o financiamento até 2025, e que as nações deveriam chegar a um novo acordo para os anos seguintes. No entanto, na COP26 em Glasgow, em 2022, ficou claro que não cumpriram o objetivo por uma série de razões, uma delas a falta de financiamento privado.

Na COP29, tudo o que Biden assinar será letra morta - o que também lançará dúvidas sobre o sucesso da COP30 no Brasil. _

De um lado, felicidade; do outro, lágrimas

Na política, seja em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no Brasil ou nos EUA, é sempre igual: um ganha e outro perde. Ontem, milhares de republicanos e apoiadores de Donald Trump foram aos festejos eufóricos diante da vitória do candidato.

Do lado democrata, outros milhares de apoiadores de Kamala Harris começaram a abandonar a apuração em diversas cidades ainda na madrugada de ontem. Os que ficaram foram, ao longo da contagem, às lágrimas diante da derrota avassaladora. _

INFORME ESPECIAL

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