02 DE SETEMBRO DE 2022
FRONTEIRAS DO PENSAMENTO
Martel: identidade local sobrevive à globalização
A segunda conferência presencial do Fronteiras do Pensamento 2022, com o tema Tecnologias Para a Vida, convidou o público a refletir, na noite de quarta- feira, sobre a realidade de um mundo cada vez mais conectado: a globalização. Enfatizando a proeminência do território local, Frédéric Martel, um dos autores franceses mais lidos da atualidade, compartilhou seus pontos de vista sobre o assunto na palestra Uma Noção de Lugar no Brasil: Globalização Ecológica e Digital, na Casa da Ospa, em Porto Alegre. Em sua 11ª viagem ao Brasil, o sociólogo e jornalista utilizou o país como referência para explicar o fenômeno, com mediação do professor Rodrigo de Lemos.
Martel é autor de Mainstream (2012) e Smart (2015), obras consideradas fundamentais para refletir sobre as indústrias criativas e a cultura digital, e do polêmico best-seller do New York Times No Armário do Vaticano (2019). Apaixonado pelo Brasil, já morou no país e o visita quase todo ano. Conhece de Porto Alegre a Brasília, da Amazônia à Mata Atlântica. Cada um de seus livros contém ao menos um capítulo sobre o país. Em suas pesquisas de campo, entrevistou dezenas de brasileiros, viu as queimadas e viajou com seringueiros, entre outras aventuras.
- Poderia dizer que sou um viciado no Brasil, e é como um amigo do Brasil que vou falar esta noite - alertou o sociólogo.
Martel estuda a globalização cultural há 25 anos. Afirma que, diferente da crença de que as fronteiras desapareceriam com a globalização e a digitalização, a cultura, a identidade e as diferenças regionais se mantêm.
- Nunca somos seres globais - decreta o pensador.
Em sua pesquisa de campo, o autor observou que a internet é um lugar onde não há fronteiras físicas, mas simbólicas - compostas por elementos linguísticos e contextos culturais ligados a identidade e território:
- Estamos sempre ligados a um território mesmo na internet. Somos globalmente conectados, mas localmente situados.
Portanto, até mesmo nas plataformas globais, o que se verifica é uma regionalização - a exemplo do Spotify, no qual as mais tocadas no Brasil incluem músicas brasileiras, seguidas das norteamericanas e, a seguir, latinas. Ocorre, desta forma, uma preferência por conteúdos próximos.
Porém, o autor salienta que o lado negativo do localismo é que pode levar ao esquecimento da necessidade de soluções de problemas maiores de nossa época, como a crise climática e as guerras. Para Martel, não basta apenas viver como que isolados em uma cidadezinha. Para ele, é preciso constituir massa crítica e encontrar modelos econômicos que permitam a sobrevivência no planeta.
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