02 DE SETEMBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
A SURPRESA POSITIVA DO PIB
Não há dúvidas de que a atividade econômica brasileira vem apresentando uma série de surpresas positivas ao longo de 2022. No início do ano, predominavam entre renomados economistas e instituições financeiras reconhecidas previsões de crescimento abaixo de 0,5% e, em alguns casos, calculava-se até a possibilidade de uma leve retração. No decorrer dos últimos meses, sucessivas revisões para cima vêm sendo feitas, e ontem o IBGE trouxe mais um número acima do esperado.
O PIB do segundo trimestre teve avanço de 1,2% sobre os três primeiros meses do ano, enquanto o consenso do mercado era de 0,9%. Assim, a taxa acumulada de 2022 ficou em 2,5%. Assim que o dado referente ao período de abril a junho foi revelado, começaram novas rodadas de recalibragem das projeções para o fechamento do atual exercício. Agora, já há prognósticos próximos de 3%.
Chamaram atenção, no segundo trimestre, o desempenho dos investimentos (4,8%), do consumo das famílias (2,6%), da indústria (2,2%) e dos serviços (1,3%). Contribuíram para o resultado a reabertura mais ampla da economia após o arrefecimento da pandemia, a normalização das condições climáticas e os estímulos do governo, como o saque de R$ 1 mil do FGTS e a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas do INSS. Ao mesmo tempo, seguiu ocorrendo uma paulatina melhora do mercado de trabalho e da massa salarial. Ao final de junho, informou o IBGE um mês atrás, a taxa de desemprego estava em 9,3%. Também contrariando as estimativas majoritárias existentes até o final do ano passado de que demoraria mais para o país voltar a uma desocupação na casa de um dígito. E isso a despeito de uma inflação ainda em elevação à época e do ciclo de alta do juro em andamento.
Projeções para a atividade são feitas a partir dos dados disponíveis acerca dos mais diversos setores, cenário fiscal e monetário, horizonte macroeconômico interno e conjuntura internacional. É inequívoco que, na virada de 2021 para 2022, existiam inúmeras incertezas, agravadas pelo início da invasão da Ucrânia pela Rússia. Felizmente, para a população brasileira, as perspectivas mais pessimistas não se confirmaram, levando a roda da economia a girar com mais força.
Após um longo período de baixo crescimento, agravado pela pandemia, o Brasil precisa, mais do que surtos de altas do PIB, já observados em anos anteriores, avanços significativos e constantes, a taxas razoáveis. O desenvolvimento do país e a conquista do bem-estar pelas famílias estão mais para uma maratona do que para corrida de 100 metros. Economistas, agora, aguardam uma certa acomodação da atividade no segundo semestre, apesar da possibilidade de o auxílio emergencial de R$ 600 sustentar o consumo interno. Com cortes de impostos sobre combustíveis (junto à queda das cotações do petróleo), energia e telecomunicações, a inflação em 12 meses deve recuar de forma considerável, aliviando a corrosão da renda dos brasileiros observada há cerca de um ano e meio.
Para 2023, restam ainda temores pelo lado fiscal, devido aos pacotes de bondades aprovados no período pré-eleitoral, ao efeito do juro alto e à possível desaceleração global. É preciso, portanto, compreender as razões que levaram à melhora das condições econômicas do país, avaliando-as sem a contaminação própria das paixões despertadas pelo ano eleitoral. Assim, deve-se seguir em alerta quanto aos riscos internos e externos de 2023, elevando as chances de o PIB, o mercado de trabalho, os preços e a renda dos trabalhadores continuarem produzindo boas notícias. Tudo isso passa por estar atento à responsabilidade fiscal, pela persistência em reformas essenciais como a tributária e pela busca do apaziguamento político e institucional.
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