quinta-feira, 22 de julho de 2010



22 de julho de 2010 | N° 16404
L. F. VERISSIMO


O poder imaginário

No México, mais do que em outros lugares da América Latina, nota-se a repartição de poderes que é comum a todos, o poder dos descendentes de europeus sobre a economia e a política – ou seja, o poder real – e o poder dos nativos sobre a identidade cultural – ou seja, sobre o imaginário – do país.

Isto talvez se deva ao fato de estar na Cidade do México o maior de todos os monumentos às civilizações pré-colombianas, o seu magnífico Museu Antropológico, onde se comemora uma vitória nativa que nunca houve.

E explica por que demorou 500 anos para que um descendente de indígenas fosse eleito presidente de um país com maioria indígena como a Bolívia.

Esta invasão do poder real pelo poder imaginário rompeu um acordo tácito de anos e é um precedente ameaçador para as oligarquias americanas – a não ser, claro, que o representante do poder imaginário apenas imagine ter conquistado o poder real.

Se você conseguir pensar no Lula como o primeiro índio brasileiro a chegar à presidência, também pode se perguntar se o governo dele é uma novidade ou uma concessão.

Na África do Sul, é clara essa divisão entre o poder real, que continua nas mesmas mãos brancas, e o domínio dos negros sobre os mitos, os ritos, as artes e até a memória do país. Na cidade de Durban estão fazendo uma espécie de higienização do passado, substituindo todos os nomes de ruas e praças que lembrem os tempos coloniais por nomes de líderes e guerreiros nativos e heróis da luta anti-apartheid.

Nesta ocupação do imaginário do país, cometem algumas injustiças. Vi poucas referências lá a, por exemplo, Nadine Gordimer, cujo prêmio Nobel de literatura se deveu em boa parte à sua oposição corajosa ao apartheid. O próprio J.M. Coetzee, hoje o mais conhecido escritor sul-africano, outro ganhador do Nobel e crítico do regime racista, também não parece ter o reconhecimento que merece – ou então eu é que não procurei direito.

E você não consegue evitar a impressão de que, na África do Sul como na América Latina, também existe um acordo tácito entre o real e o imaginário, e que a elite branca entrincheirada nos seus condomínios fechados cedeu tudo aos negros, inclusive a sua História, para preservar o poder verdadeiro.

Os campeões
Rescaldo da Copa. Quem via o Sergio Ramos entrando pela direita como um ponteiro clássico não podia acreditar na escalação oficial da seleção espanhola, em que ele aparecia como lateral.

O destaque de Sergio Ramos no ataque sublinha uma injustiça que se fez à defesa espanhola, ofuscada pelo brilho de Xavi, Iniesta e David Vila. O ataque brilhou mas fez poucos gol.

Quem segurou os resultados e ganhou a Copa foi a defesa, com Puyol, Xabi Alonso, Piqué, Busquets, Capdevila. E o metido Sergio Ramos. Enquanto isso, Maicon raramente fez o que faz melhor na Inter, que é ir fundo como ponteiro. Maicon acreditou na sua escalação oficial.

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