sábado, 17 de julho de 2010



18 de julho de 2010 | N° 16400
VERISSIMO


Pipocas, não

Aquela invasão de mulheres justamente na hora do jogo era demais para Zé Henrique

Marina nunca gostou de futebol, mas se empolgou pela Copa. Se empolgou, principalmente, pelo Forlán. Passou a acompanhar todos os jogos da Copa, e não apenas os do Uruguai. Mas ela e o grupo de amigas que reunia em casa gostavam mesmo era de ver o Forlán.

O marido da Marina, Zé Henrique, não se importava com seu novo interesse pelo futebol. Mas aquela invasão da sua casa por mulheres, justamente na hora dos jogos, quando ele gostava de se espichar no sofá com uma cerveja, e fazer pipoca no intervalo, e ver os jogos sozinho, ou com a mulher ao seu lado apenas dando palpites para fingir que se interessava (“Que brutalidade!”) – aquilo era demais. Ficava ele no meio das mulheres, sentado num canto, banido do seu próprio sofá.

E tendo que responder a perguntas. O que era impedimento, mesmo? Se o goleiro era o único que podia tocar a bola com as mãos, como é que outros usavam as mãos para bater lateral? Por que se dizia “bater lateral” quando o que faziam era atirar a bola? E o Furlán, era casado?

Um dia, com sete mulheres na sala, ele mal conseguindo enxergar a televisão, houve um lance que indignou a todas. Marina virou-se para o marido e exigiu uma explicação.

– Bola no travessão não vale nem um ponto? – Não, Marina. Bola no travessão não vale nada. – Mas devia. Devia!

– Marina, não fui eu que fiz as regras. – Você também, Zé Henrique!

Todas as mulheres da sala olharam para ele com reprovação. Como se uma bola no travessão do Forlán não valer nada fosse uma demonstração revoltante de insensibilidade masculina.

Ele precisou se defender. - A culpa não é minha! Antes, no intervalo do jogo, Marina tinha dito:

– Zé Henrique, faz umas pipocas pra gente. E, para as amigas: – O Zé Henrique faz pipoca muito bem. – Não – disse o Zé Henrique. – O quê?– Pipoca, não.

– Zé Henrique! Seu mundo tinha sido invadido. Ele não podia deter a invasão. Mas não ia alimentar as invasoras. Que pensassem o que quisessem dele, que o chamassem de grosseiro, de ciumento, de ressentido. Mas pipocas, decididamente, não.

Mãos milagrosas

O Melques apareceu com uma dor logo abaixo da nuca. Estresse, foi o diagnóstico geral. O Simão disse:– A Sueli dá um jeito nisso em dois tempos.

A Sueli era mulher do Simão e fazia massagens. Suas mãos, na descrição do marido, eram milagrosas. Ele mesmo, quando casara com a Sueli, tinha dores terríveis nas costas. Bastara uma semana das massagens da Sueli, na lua de mel, para as dores passarem.

– Vai lá em casa que a Sueli dá um jeito em você.– Quanto ela cobra?– O que é isso? Nós somos amigos ou não somos? Cobra nada.

Melques passou a ir três vezes por semana na casa do Simão e da Sueli. As massagens eram feitas na cama do casal. O próprio Simão dera a ideia. Sueli não precisava de nada para fazer suas massagens, além de uma superfície plana. Nem cama especial, nem óleos especiais, nada. Só das suas mãos milagrosas.

No fim da primeira semana de massagens o Melques disse para sua mulher, Irma, que a dor continuava, mas tinha mudado de lugar. Segundo a Sueli, aquilo se chamava dor itinerante e era normal. Suas mãos milagrosas perseguiriam a dor até onde ela fosse e a encurralariam em algum lugar. Só precisavam de tempo.

Depois de duas semanas (isso o Melques não contou para a mulher) a dor tinha passado das costas para a frente e descido até abaixo do umbigo. Até onde a Sueli perseguiria a dor do Melques?

– Minhas mãos não conhecem fronteiras – disse a Sueli. Durante as sessões de massagem, o Simão ficava no seu gabinete nos fundos da casa, entretido com sua coleção de selos.

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