terça-feira, 13 de julho de 2010



13 de julho de 2010 | N° 16395
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Uma vida particular

“Você não tem mensagens novas” – me informa a secretária eletrônica do telefone. Minhas reações são diversas e divididas. Recebo sempre, a cada manhã, vários recados. São vozes que querem me empurrar um excelente cartão de crédito, a assinatura de uma revista que garantem ser a melhor do país, um cupom que me candidata ao sorteio de um carro.

E há também os que são mais simples e menos ambiciosos. S. reclama que me enviou um e-mail, e que eu não respondi. D. se queixa que me mandou seu último livro e eu sequer acusei o recebimento. G. repete o convite para tomarmos um cappucino no café do Margs.

Não desgosto das mensagens comerciais. Afinal, são pessoas que ganham a vida tentando vender o trivial variado para gentes que desconhecem. Não careço de cartões de crédito, sou bem servido com os que já tenho. Não me faltam revistas, quer em casa pelo Correio, quer no lugar onde trabalho. Não necessito de um carro novo, pois aposentei o último que tive por uma espécie de economia íntima, como a que me descreveu em ida entrevista ninguém menos do que Erico Verissimo.

Quanto a S., está coberta de razão. Sou relapso com os e-mails que recebo. Na maioria dos casos vou deixando que se acumulem antes de lhes dar adequada resposta. Já D. está certa. Me chegam tantos livros que acabo por ser descortês, não enviando sequer um muito obrigado a autores e editores. Pior: nem chego a ler todos.

No que diz respeito a G., me declaro em dupla dívida. Nem só já deveria ter repartido um cappucino com ela, como revisitado as obras do Margs, um dos melhores museus do Brasil. O fato é que são tantas e tão variadas as pequenas e grandes exigências do cotidiano que termino por faltar com certos deveres e prazeres que não poderia esquecer.

Aliás, por mim programaria minha vida de um modo todo particular. Para princípio de conversa, não teria hora para despertar, pouco importando se ela fosse às 10h, às 11h30min ou ao meio-dia. Trabalho? Nem pensar. Dedicaria todos os meus momentos a lazeres, aí incluídas as histórias que ainda tenho na cabeça e preciso transferir para a tela de um computador.

Não negligenciaria os amigos. Dedicaria a eles cada instante que hoje devoto ao duro ofício da sobrevivência. Eu viajaria muito, veria infinitos filmes, eu não perderia concertos, eu frequentaria exposições de arte, eu sairia no encalço de cada amada que balançou meu coração.

Mas desconfio que tudo isso é apenas o sonho de uma noite de verão.

Linda terça-feira para você. Aproveite o dia

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