segunda-feira, 12 de julho de 2010



12 de julho de 2010 | N° 16394AlertaVoltar para a edição de hoje
KLEDIR RAMIL

A culpa foi minha

Eu não sou supersticioso, mas por via das dúvidas sempre sento na mesma poltrona quando assisto a um jogo da Seleção Brasileira. E cultivo alguns hábitos, mais pela questão ritualística do que qualquer outra coisa. Como certos jogadores, só entro na sala com o pé direito e faço o sinal da cruz.

Meia hora antes de começar o jogo, preparo o chimarrão. A chaleira é a de sempre. A mesma cuia, a mesma bomba e a erva tem que ser da mesma marca. “Por si acaso”, como diriam os hermanos.

O primeiro mate só pode ser tomado depois do apito inicial, faz parte do ritual. A temperatura da água é levemente acima do normal, o que me dá a sensação de que o nosso time vai dar um calor no adversário. A roda de chimarrão deve girar sempre em sentido anti-horário. São fundamentos sagrados, que devem ser respeitados.

Costumo usar a mesma calça, a mesma cueca, o mesmo par de tênis e, detalhe fundamental, a mesma camisa do Esporte Clube Pelotas, que, além de ser o meu time de infância, gosto de imaginar que foi a camisa que inspirou a amarelinha da Seleção Brasileira. Apesar de Aldyr Schlee, o criador, meu conterrâneo, ser torcedor do Xavante e não do Áureo Cerúleo.

O Hino Nacional, canto sempre em pé com a mão no coração (ou vice versa). Sei a letra inteira, sem errar. Um erro na letra do hino pode ser fatal.

Outro dia, assisti ao jogo Brasil X Chile com um grupo de amigos. Uma das minhas amigas estava nervosa e resolveu levantar: “Vou dar uma volta. Acho que tô dando azar”. O amigo que estava a meu lado, observador perspicaz do espírito humano, comentou rindo: “Quanta pretensão, achar que és capaz de influenciar o resultado do jogo. Tu não tens tanto poder assim.”

Não sei, não sei. Nessas horas lembro do Uri Geller, aquele paranormal que entortava talheres com a força do pensamento. Tudo é possível. “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Na dúvida, acho que cada um tem que fazer a sua parte.

Foi então que veio a tragédia contra a Holanda. Preciso confessar uma coisa: eu fui o responsável pela derrota. O primeiro tempo estava tranquilo, até o Felipe Melo fazia lançamentos. Aí eu me descuidei, achei que o jogo estava ganho. Não dá pra bobear.

No intervalo resolvi virar o mate, que já estava meio lavado. Nunca se vira o mate no intervalo de um jogo, dá azar. Mas eu estava confiante. Relaxei, virei o mate... e o jogo virou. Saímos da Copa. Culpa de quem? Culpa minha. Não dá pra brincar com essas coisas.

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