sexta-feira, 23 de julho de 2010



23 de julho de 2010 | N° 16405
PAULO SANT’ANA


É só engarrafamento

Eu tinha de assinar autógrafos às 19h30min no Bourbon Country, Livraria Cultura, ontem.

Por que então resolvi sair aqui de ZH às 17h30min? Está na cara, por causa do engarrafamento.

O engarrafamento passou a ser um inferno diário para os porto-alegrenses. Dezenas de governos municipais omissos, com exceção do engenheiro Telmo Thompson Flores, que encheu a cidade de elevadas, levaram a esse purgatório torturante do engarrafamento em nossa cidade.

Sempre que pego um táxi, repito ao taxista a frase célebre de Dom Pedro I ao seu cocheiro: “Devagar, que eu estou com pressa”.

Imaginem os imensos embaraços por que têm passado os porto-alegrenses com os congestionamentos. Examinem o e-mail que recebi ontem e que relata os tormentos de andar pela Porto Alegre engarrafada:

“Caro Sant’Ana. Permita-me ‘filosofar’ um pouco sobre o dia de ontem, um dia de loucura no trânsito, mas nunca imaginei que na minha vida fosse acontecer o que, abaixo, quero relatar.

Ontem, ao meio-dia, recebi uma ligação de um primo. A nossa tia que mora em PoA tinha falecido e as cerimônias seriam às 18h30min no Jardim Saint Hilaire, em Viamão.

Diga-se de passagem que a falecida era uma querida madrinha de batismo da minha esposa.

Decidimos ir dar nosso último adeus e, para ganharmos tempo, nossa saída foi programada para as 16h.

Pensei que duas horas e meia fossem mais do que suficientes para chegar em tempo ao cemitério Saint Hilaire de Viamão, pois conhecia bem o trajeto.

Quando passamos pelo zoológico de Sapucaia, avisamos aos primos que, de qualquer maneira, nós iríamos até lá, mesmo chegando tarde, pois, o trânsito estava lento.

Imagina, Sant’Ana, às 18h40min, devido ao trânsito lento (eterno suplício!), apenas estávamos chegando à rótula da Carlos Gomes/Protásio, da Perimetral... e ainda faltava todo o trajeto dali até o Saint Hilaire.

Foi a hora em que o primo nos ligou para dizer que a cerimônia já estava encerrada (lógico, lá no cemitério não podem esperar, tudo é programado) e que estavam todos indo embora, já era noite.

Naquele momento, essa ligação significava um solene e definitivo ‘adeus ao nosso adeus’, que tanto queríamos dar à nossa madrinha.

Restou-nos uma única saída... retornarmos. E chegamos em casa com uma incrível ‘maratona’ de quase cinco horas ao volante.

Mas o pior: naquele momento, uma tristeza imensa, inexplicável, se apossou de nós (só quem sentiu isso pode falar) e, especialmente, da minha esposa, quando notei seu rosto. Discretamente, ela estava lacrimejando!

Cara... como se diz na gíria... isso doeu!

Querido Sant’Ana, leio quase sempre a Zero Hora de trás pra frente.

Tua imensa experiência, capacidade psicológica e filosófica de escrever sobre tudo e sobre todos, duvido que alguém neste mundo conseguiria descrever a sensação que senti do ‘momento’ de tanta desolação e tristeza espiritual que se abateu sobre a gente!

Somos impotentes, humanos, sem o que dizer!

Desculpe este desabafo, esta carta que te envio, para dizer que sou mais uma voz que se junta a tantas que, certamente, fazem crescer, mais ainda, a montanha de mensagens solidárias ao teu raciocínio sobre a fortuna que vai se gastar para a Copa 2014 em detrimento a tantas outras necessidades extremas e urgentes, como a de dotar nossa cidade de obras que possam tornar o trânsito cada vez menos lento. Atenciosamente, (ass.) Albano Stein, Portão (RS)”.

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