quinta-feira, 15 de julho de 2010



15 de julho de 2010 | N° 16397
CLAUDIA TAJES


O macho (quase) perfeito

Homem que é homem chora, mas desde que seja por um bom motivo: porque nasceu seu filho ou porque a merecida promoção chegou após uma vida de trabalho, por exemplo. Homem também pode chorar ao comprar o primeiro carro, nem precisa ser zero, e, ao vencer alguma coisa, qualquer coisa, seja ela da primeira, da segunda ou da vigésima divisão.

Um amigo chorou ao ver a mulher por quem era apaixonado tirar a roupa pela primeira vez. Emoção com a mais pura testosterona. Outro chorou compulsivamente ao entrar em uma calça quatro números menor, consequência de um regime violento. Choro de felicidade, mas que alguns interpretaram como efeito da desnutrição.

De todos os homens que choraram nessa Copa do Mundo, do que se derramou ao ouvir o hino ao que desabou ao errar o pênalti, nenhum chorou como Casillas. O goleiro-capitão, sempre em todas as listas dos bonitões do futebol, não se segurou quando o gol espanhol saiu no final da prorrogação.

Enquanto os companheiros corriam, pulavam e faziam montinho, Casillas chorava sozinho no seu canto, as luvas no rosto, quase um choro desconsolado. Ele continuou chorando depois que o jogo terminou e mesmo na hora da festa, erguendo a taça, manteve a expressão de homem que sabe chorar. Ao redor do mundo, telespectadoras soltaram ais em todas as línguas.

Homem que é homem também não tem vergonha de mostrar que ama a própria mulher, ainda que ajude a mulher em questão ser uma das musas da Copa. Naquele que virou um dos vídeos campeões de acessos do YouTube, o mesmo goleiro Casillas tascou um beijo na namorada-repórter que o entrevistava ao vivo para uma rede de TV da Espanha. Mais suspiros multilíngues planeta afora.

Depois dessas duas demonstrações de masculinidade sensível, estava eleito o Homem do Ano, quem sabe da década. Casillas, o macho que só não é 100% perfeito porque não é solteiro.

Se bem que, nele, até esse pequeno defeito dá para desculpar.

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