sexta-feira, 9 de julho de 2010



09 de julho de 2010 | N° 16391
PAULO SANT’ANA


Salve as entrelinhas!

Encontro no corredor o companheiro Alexandre Bach, que sempre me brinda com críticas ou elogios às minhas colunas.

E pergunto-lhe o que achou de uma coluna que escrevi esses dias.

Resposta imediata dele: “Só Homero poderia escrever a Ilíada”.

Uma vez escrevi aqui que os meus leitores teriam de me compreender menos pelo que escrevo do que pelos meus silêncios.

Hoje estava com vontade de escrever que muitos dos meus leitores não me compreendem sobre meus silêncios, dão mais valor às minhas palavras.

Seria uma injustiça com 95% dos meus leitores, que não só me compreendem por meus silêncios como me acariciam, secreta ou ostensivamente, por meus silêncios.

A respeito disso, um político tradicional, um grande raposão da política brasileira, talvez tenha sido o Magalhães Pinto, após conceder uma entrevista exclusiva a um jornalista, pegou o repórter pela manga do paletó e lhe aconselhou: “Espero que não publiques só o que te disse, mas também o que eu quis te dizer”.

Magistral! Quase modifico com isso a história dos meus preciosos e significativos silêncios.

Acontece que tem menos importância o que escrevo em minha coluna do que o que eu queria dizer quando escrevi aquilo – e não pude dizer.

Ou melhor, se eu pudesse fazer um apelo aos leitores de minha coluna, a quem respeito como alicerces da minha vida profissional, portanto da minha existência, seria o de que me entendessem nas entrelinhas.

As entrelinhas têm um valor maior do que o próprio silêncio. Porque as entrelinhas são o adorno das palavras e a moldura dos silêncios.

Em muitas vezes, as entrelinhas gritam estremunhadas, enquanto as palavras apenas sussurram.

Em muitas vezes, as entrelinhas – ou o silêncio – são muito mais eloquentes do que as insossas e confusas palavras.

Ontem, por exemplo, conversei com um amigo por mais de 40 minutos.

Fui fazer um pedido – ou uma consulta – a ele, no sentido de que queria ter a sua opinião sobre determinada questão importante.

Resumiria que meu amigo, no fim das contas, em suma, me disse SIM.

Deu-me um sonoro SIM sobre a pergunta que lhe fiz.

E eu saí daquela fundamental conversa com a convicção de que meu amigo queria me dizer NÃO. Foi NÃO que ele me quis dizer e não o SIM que ele disse.

Ontem eu aprendi a lição. Principalmente quem está amando demais ou quem está muito chocado pode dizer sim quando está querendo dizer não ou o contrário.

Poderia, sob certa forma, sintetizar esta coluna na seguinte frase: não importa o que eu digo, importa o que eu penso e sinto.

O que o meu amigo, que é muito inteligente, quis me passar é que para o mundo e para os outros, é preciso que eu diga que ele disse SIM, mas para mim, só para mim, na verdade ele disse, sem dizer, NÃO.

Isso tudo é uma grande lição.

Tanto, que uma vez um amigo meu, sobre eu ter-lhe perguntado como podia estar sempre alegre, cordial e sorridente para com todos em sua volta, respondeu-me gravemente: “Os sorrisos dos meus lábios nada têm a ver com a amargura do meu coração”.

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