sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009



Seis mil anos de carná

Dizem que o Carnaval começou no Egito, há milênios, às margens do rio Nilo, inspirado pela Deusa Isis, celebrando a fertilidade e as primeiras colheitas. Gregos evoluíram a coisa, com bebidas, altas festas, sexo, vinho liberado e tal, inspirados pelos deus Dionísio.

Romanos gostaram, claro, e tocaram adiante a farra, inspirados pelos deuses Baco, Saturno e Pã. A cif(v)ilização judaico-cristã, dita séria, cheia de culpas, abstinências, pecados, castigos e penitências, bem que tentou dar um chega no carná. Óbvio que não conseguiu. A libido e a liberdade deram de dez a zero.

O Papa Paulo II, século XV, esperto, deixou rolar, na frente de seu palácio na Via Lata, o carnaval romano, mas, tipo assim, Carnaval ordeiro, básico, com desfiles, fantasias, corridas de corcundas, batalhas de confetes e lançamentos de ovos. De Roma para Veneza, de Veneza para o entrudo português e de lá para o Rio de Janeiro, superescolas de Samba SA, Bahia, Olinda etc foram alguns séculos rápidos de folia e estamos aí, no século XXI, pos-modernamente carnavalizados.

Quer dizer: bem ao espírito irreverente e do contra do Carnaval, a maioria das pessoas aproveita o feriado para descansar ou assistir às festas pela tevê ou pela internet.

Pudera! Nos outros 362 dias do ano, haja máscaras, mascarados, orgias congressuais, bundas televisivas, descontração, bufões de todo gênero e clima de liberou-geral. Carná agora é ano todo, merrrmão!!! Beleza pura!!! Dá até uma canseira gostosa e, aí, nos três dias de Momo, o cara tem que descansar, tentar botar a cabeça no lugar. Botar a cabeça no lugar?

Bom, é Carnaval, vai, mas não fica aí fazendo piadinha de duplo sentido. Ou, então, fica, faz o que você quiser. Fique em casa bebendo água ou cachacinha marisqueira do seu Zequinha da BR-101, vendo as escolas. Procura algum velho Carnaval de rua e sai fantasiado de ET ou de você mesmo, que periga ser a mesma coisa. Sei lá, se vira!

Agora, retiro espiritual, tipo levantar às cinco e meia, rezar dez horas por dia, ficar comendo bolachinhas sem sal, tomando chá de camomila e tragando peito de frango sem tempero com guisado de chuchu, ah, isso não sugiro, me desculpe. Tô fora! Se bem que lá no retiro pode pintar algum clima com alguém.

Aí, depois de decidirem para qual claustro vão, carnes e almas vão saracotear numa boa e depois ficar em paz, sem culpa nenhuma, ao menos até o primeiro raio de sol e até a primeira briga no banheiro.

Jaime Cimenti

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