sábado, 14 de fevereiro de 2009



15 de fevereiro de 2009
N° 15880 - MOACYR SCLIAR


O sexo e seus prefixos

É parte da condição humana, sempre variável e imprevisível: assim como um imã atrai limalhas de ferro, a palavra “sexual” atrai prefixos.

Não estamos falando só dos clássicos exemplos, homossexual, heterossexual, bissexual. Não, trata-se das expressões que surgem (e desaparecem) constantemente.

Nos últimos anos tivemos pelo menos quatro exemplos. O primeiro foi metrossexual, termo introduzido pelo jornalista britânico Mark Simpson e formado pela junção das palavras metropolitano e heterossexual.

Designava (o verbo já está no passado) um homem heterossexual urbano excessivamente preocupado com a aparência, com cosméticos e roupas de grife. O exemplo constantemente citado era o do jogador de futebol David Beckham, que passava os dias em lojas, ou na manicure ou no cabeleireiro. Depois que o New York Times comprou a ideia, e depois que Dolce & Gabbana, Giorgio Armani, Prada e Versace começaram a produzir para os metrossexuais, eles ficaram consagrados. Não por muito tempo, claro.

Moda é coisa fugaz. Surgiu então o “übersexual”, descrito pelos gurus publicitários Ira Matathia, Marian Salzman e Ann O’Reilly, no livro The Future of Men (O Futuro dos Homens). Homens que usam cremes, depilam-se e fazem as unhas não estão com nada, proclamavam os autores; os modelos passavam a ser Bono Vox, George Clooney, Bill Clinton, Arnold Schwarzenegger: o homem na sua imagem clássica, tradicional, que o colocaria numa posição “über”, tanto na sociedade como na cama.

Mas este modelo também não vingou, e o vácuo foi preenchido pelos gastrossexuais, definidos pelo instituto britânico Future Foundation (a Inglaterra é uma tradicional incubadora desses tipos) como “homens bem resolvidos que têm como hobby fazer pratos elaborados”.

Uma pesquisa feita pelo mesmo instituto, com cerca de mil homens no Reino Unido, mostrou que 48% dos entrevistados dizem que cozinhar os torna mais atraentes para as mulheres, por serem aparentemente menos machistas e preconceituosos, mais domésticos e afetivos.

Àquela altura já estava claro que os prefixos tinham invadido definitivamente o território do sexo. Surgiu um cartoon chamado Sexual Prefixes, e homens começaram a identificar-se como “sexual, no prefixes attached”, sexual sem prefixos. Mas a tendência era irresistível. Agora, surge o neossexual. O termo emergiu de uma pesquisa realizada pela Unilever, fabricante dos desodorantes em parceria com o Instituto Datosclaros.

O neossexual é um homem que se apega à masculinidade tradicional mas sem renunciar à sensibilidade (o clássico “endurecer sem perder a ternura” de Che Guevara; o endurecer, no caso do neossexual, tendo duplo sentido). As mulheres querem dividir a cama, e não produtos de beleza, com seus homens.

Ou seja: voltamos ao ponto de partida. Porque o neossexual é na verdade o páliosexual, é o homem à moda antiga; ele é pré-Kama Sutra, adepto fervoroso do papai-mamãe.

Isso tudo mostra, afinal, que os prefixos têm muito pouca importância numa relação autenticamente vivida. O que interessa não é o pré, é o fixo, aquilo que persiste através do tempo.

E o que persiste através do tempo são os valores humanos, masculinos ou femininos: a compreensão, a tolerância, a autenticidade. O resto é detalhe. O resto é (mas por favor, não entendam mal esta expressão) penduricalho.Del et acipit, sim do Del

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