sábado, 28 de fevereiro de 2009



01 de março de 2009
N° 15894 - PAULO SANT’ANA


Pizza em zona de guerra

Considero que um dos direitos civis básicos é receber em casa pizza por tele-entrega.

Uma das maiores invenções da civilização é, além do motoboy, o serviço de delivery, você em casa pode receber a sua pizza ou qualquer outra comida, o remédio da farmácia etc.

Pois acreditem se quiserem, inúmeras pizzarias estão se recusando a fazer tele-entregas em bairros de Porto Alegre, alegando falta de segurança para seus entregadores.

Quem mora nos bairros Jardim Leopoldina e Rubem Berta, por exemplo, arrisca-se a não receber pizza em casa, em face de os dois bairros, além de outros bairros adjacentes, serem considerados pelas pizzarias como zonas de alta insegurança.

A que ponto chegamos, muitas vezes as pessoas deixam de sair para jantar fora, receando a insegurança das ruas, pedem pela tele-entrega a pizza, que é recusada pelo motivo de que o autor do pretendido pedido mora em zona onde há muitos assaltos, o que poderia colocar em risco o entregador.

Dizem-me que o mesmo já acontece em ruas em torno do Morro de Santa Tereza e em alguns locais do Partenon.

Recebi muitas reclamações de pessoas que moram dentro do Jardim Leopoldina e do Rubem Berta ou em zonas vizinhas.

E me sensibilizo com seus protestos por entender que dessa forma é agredida sua cidadania.

Essas pessoas são discriminadas em seus direitos.

Na faixa da negociação, não seria o caso das pizzarias cobrarem uma taxa acessória para fazer entrega nesses locais que julgam perigosos?

As pizzarias cobrariam uma “taxa de insegurança” e poderiam assim entregar os produtos.

Mas, por outro lado, não seria uma forma de colocar em risco a vida dos entregadores em troca apenas da recompensa através da taxa?

Uma leitora, que não quis se identificar, alegou que defronte à sua casa nunca ocorreu qualquer assalto, como então pode a pizzaria classificar o lugar onde mora como inseguro?

Eu calculo que a rua onde mora a leitora não seja insegura, porém o trajeto que o entregador tem de percorrer até chegar à sua residência mostra índices expressivos de assaltos.

Fico pensando que na marcha que vai a insegurança das ruas, qualquer dia as pizzarias vão ter de usar carros-fortes para realizar suas tele-entregas.

E o cliente que for receber em casa a pizza por uma fresta do carro-forte, por onde passará também o dinheiro, deverá ter a cautela de usar colete à prova de balas.

A Rudder, por exemplo, uma das melhores empresas de segurança privada, poderia criar o segmento-pizza, que consistiria na tele-entrega do alimento em quaisquer recantos da cidade, mediante um séquito de seguranças e veículos protetores do ato de entrega das pizzas nas residências.

Parece que estou vendo aquele batalhão precursor de batedores, seguido do carro-forte, invadindo a vila ao toque de sirenas.

E todo o mundo perguntando na vila: “O que houve? Outro assalto?” E a resposta: “Não, a entrega de uma de atum e outra de calabresa.”

Só agora encontro explicação para um anúncio que li estes dias em ZH-Classificados: “Tratar diretamente com o proprietário. Vende-se casa nova, com dois pisos, uma garagem com três vagas, churrasqueira, em rua do bairro onde circula livremente qualquer serviço de tele-entrega”.

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