sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009


Lucy Kellaway

Fique esperto e suspenda ao máximo as suas meias

No verão passado, jantei com uma dezena de administradores de seguros britânicos e italianos em Roma. De uma maneira meio desordenada, discutimos o tempo (quente) e a economia (nem tão quente), até que alguém começou a falar de meias. De repente, a noite ganhou vida: os homens afastaram as cadeiras da mesa e subiram as barras das calças.

Cada um dos britânicos estava usando uma meia baixa que acabava três ou quatro polegadas acima do tornozelo, revelando uma boa quantidade de pernas brancas como a neve; cada italiano tinhas as panturrilhas cobertas por meias primorosamente prolongadas que subiam em direção ao joelho. Cada nacionalidade olhou em choque para as meias da outra.

Me lembrei desses especialistas em seguros um dia desses, quando li um blog do "The New Yotk Times" em que um escritor de moda aconselhava os homens como se vestirem no dia em que forem demitidos do trabalho.

"A roupa perfeita para a rescisão deve apresentar profissionalismo e empregabilidade como ponto principal, mas com toques de confiança e um gosto posterior que significará que ao deixar o escritório você está indo para cima. Um terno sóbrio com uma camisa clara é perfeito."

O conselho me interessou, assim como a artificialidade deliciosa do texto. Mesmo assim, a postagem provocou uma tempestade de indignação dos leitores, que acusaram o autor de estupidez por estar se concentrando em assuntos desnecessários num momento como este.

Esses leitores não entenderam o ponto. Assuntos desnecessários são ainda mais importantes em momentos como este. Mesmo em tempos de vacas gordas não há nada trivial sobre o que as pessoas escolhem vestir.

Uma espiada em nossas meias vai dizer de que nacionalidade somos; uma espiada no resto vai dizer que linha de negócios seguimos e também dará uma ideia do estado da economia. Um dos efeitos colaterais mais abençoados da recessão é que todos ficamos mais bonitos.

Um terno sóbrio não é apenas a coisa certa que alguém deve vestir no dia em que for demitido, é também a coisa certa a se usar durante todos os outros dias de trabalho.

Em um seminário realizado em Londres para gerentes de recursos humanos, na semana passada, todos estavam de terno e gravata, enquanto que no mesmo seminário, dois anos atrás, estavam todos com roupas casuais. O pessoal da área de RH está na linha de frente do mercado de empregos e se eles acham que os ternos estão em alta, eles também vão querer estar por dentro.

O look casual, que usamos como um sinal de fé na igualdade de direitos e informalidade, agora parece medíocre. Quando Stephen Hester, presidente do Royal Bank of Scotland, foi fotografado em um domingo recente saindo do Tesouro de jeans e um colete bege, com remendos de camurça nos ombros, as pessoas não gostaram.

Uma delas escreveu para o "Financial Times" afirmando que Hester parecia estar usando as mesmas pantufas que ela havia comprado na M&S para o Natal. Perdemos o parâmetro da moda. Agora, vemos aquele homem de roupas casuais como simplesmente terrível; e também estamos começando a suspeitar que um homem casual em suas roupas possa ser casual com nosso dinheiro.

A nova elegância nasce da paranóia. Conheço um homem que saiu para comprar algumas camisas Jermyn Street (uma pechincha) para passar para seu chefe a mensagem de que ele não deveria ser demitido. Foi um bom investimento: ele ainda está no emprego e diz que o ritual de passar aquelas camisas o lembra da importância de seu emprego, e afirma que está respeitando-o um pouco mais.

Poucos anos atrás, descobri a verdade de que uma pessoa se sente melhor em relação ao emprego quando se sente mais bem vestida. Até os meus 40 anos, eu usava principalmente roupas compradas em liquidações da Gap Kids (tamanho XL) e as pendurava sem cuidado. Agora, uso casacos e sapatos de salto e maquiagem, creme de base, batom e brincos de pérolas.

Em parte, estou tentando compensar os estragos da idade; mas também venho percebendo que, quando me visto para impressionar, posso não impressionar ninguém, mas me impressiono. E isso, certamente é um bom começo.

Mais do que isso, eu acho que o ato de se vestir é, em si, uma coisa boa de se fazer. Melhora o espírito. Tenho uma amiga que acaba de ser nomeada para um cargo administrativo sênior e sua primeira decisão foi lançar o salto alto às sextas-feiras. Sondagens iniciais sugerem que isso vai ser popular junto ao seu staff feminino. Quando a economia está ruim, precisamos nos vestir melhor para melhorar os ânimos.

Há duas outras vantagens de se vestir formalmente para trabalhar. Primeiro, significa que você sempre sabe o que vestir. Aquelas dúvidas diárias estressantes- com gravata ou sem gravata? Calça de algodão ou terno?- são respondidas de maneira mais simples.

E melhor ainda: vestir-se apropriadamente representa uma demarcação melhor entre o trabalho e o resto de sua vida: gravata significa trabalho e camiseta significa sair por aí fazendo nada.

Mesmo assim, a melhor alegria em dizer adeus ao casual é que dizemos adeus a alguns pensamentos nojentos que vão junto com ele. O mais patético era a ideia de que se vestir informalmente ajudava você a ser criativo.

Tenho assistido à série de TV "Mad Men" e estou feliz em ver que os criativos da agência de propaganda da Madison Avenue da década de 60 não deixavam que seus colarinhos engomados e ternos perfeitos os impedissem de criar boas peças publicitárias. (Suas roupas também não impediam que eles levassem suas secretárias para a cama.)

Para sobreviver a esta recessão, precisamos nos vestir bem e trabalhar com vontade. Precisamos de cintos e suspensórios. Precisamos nos animar por conta própria.

Não é coincidência as novas tendências para se vestir não mencionem camisetas ou calças de algodão. Em vez disso, a mensagem deles é: puxe as meias- não importa o tamanho que elas têm.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada quinzenalmente na editoria de Carreiras

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