segunda-feira, 2 de dezembro de 2019



02 DE DEZEMBRO DE 2019
NO VALE DOS VINHEDOS

Encontro na Serra será teste para Mercosul em transição

Diplomatas iniciam debates hoje e presidentes de países do bloco se reúnem na quinta. Dois líderes estão em fim de mandato.

É em meio aos vinhedos da serra gaúcha que devem brotar, nesta semana, indicações sobre o rumo do Mercosul, que ocupou o centro de polêmicas nos últimos meses. A partir de hoje, Bento Gonçalves recebe diplomatas e presidentes para a realização de nova cúpula do bloco econômico. A organização tem Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai como membros efetivos.

Os debates ocorrem no hotel Spa do Vinho, na região do Vale dos Vinhedos, rota turística e berço de vinícolas gaúchas. Por esse motivo, a 55ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul foi apelidada de Cúpula do Vale dos Vinhedos.

O ponto alto da programação é a reunião dos presidentes, marcada para quinta-feira. Além de Jair Bolsonaro, Mauricio Macri (Argentina) e Mario Abdo (Paraguai) confirmaram presença, informou o Itamaraty. Por questões de saúde, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, deve ser representado pela vice-presidente, Lucía Topolansky, acrescentou o ministério.

Os líderes desembarcam na Serra no momento em que o Mercosul prepara transição. A cúpula em Bento Gonçalves deve ser um dos últimos compromissos de Macri no comando da Argentina. Seu sucessor, o peronista Alberto Fernández, assume o posto de presidente no próximo dia 10.

No Uruguai, outra mudança. Luis Lacalle Pou foi confirmado como vencedor das eleições locais. O triunfo do candidato de centro-direita encerra o período de 15 anos de gestões de esquerda no país. Fernández e Lacalle Pou não devem ir a Bento Gonçalves.

Ao longo do evento, analistas tendem a prestar atenção em eventuais sinalizações do anfitrião Bolsonaro. No último dia 25, ao ser questionado se o Brasil poderia deixar o Mercosul devido à vitória de Fernández na Argentina, o presidente mencionou que "tudo pode acontecer". Após a tensão nas relações, ambos sinalizaram, dias depois, manter "vínculo pragmático" entre os países.

- Dois dos quatro presidentes que devem participar da cúpula têm a sombra de seus sucessores. Logo, o evento funcionará como teste do que pode vir pela frente. Por ser o anfitrião, Bolsonaro tem papel proeminente. Convém prestar atenção em sua postura - diz o professor de Relações Internacionais Vinícius Rodrigues Vieira, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Relevância

Ex-embaixador do Brasil na Argentina, José Botafogo Gonçalves avalia que o Mercosul precisa passar por "ajustes", mas destaca que o bloco tem peso relevante na pauta de exportações brasileiras, sobretudo de produtos industrializados. A Argentina é o quarto principal destino das mercadorias verde-amarelas no Exterior. Devido à penúria vivida pelos vizinhos, os embarques desabaram 38,4% de janeiro a outubro deste ano em relação a igual período de 2018, para US$ 8,2 bilhões.

- As declarações de que o Brasil pode andar sozinho, sem a Argentina, são uma tolice. A crise no país vizinho provoca perda que não é substituída nas exportações de manufaturados. O Mercosul ainda é protecionista e precisa de reformulação, mas não deve ser visto como algo do passado - diz Gonçalves.

A cúpula na Serra começa com encontros de diplomatas sobre temas diversos entre hoje e amanhã. Na quarta-feira, é a vez de ministros das Relações Exteriores. Segundo o Itamaraty, representantes de países associados, como Bolívia, também foram convidados.

- A discussão sobre os termos do acordo comercial do Mercosul com a União Europeia deve ganhar mais espaço quando o novo governo da Argentina assumir o mandato - projeta o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.

O prefeito de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin (PP), comemora a organização da cúpula no município. Segundo ele, o evento deve levar em torno de 2,5 mil pessoas à cidade, entre políticos, assessores, agentes de segurança e imprensa.

- Bento Gonçalves explora o enoturismo. E, se existe algo que une os países latinos, é o vinho - pontua Pasin, ao comentar a escolha da cidade como sede da cúpula.

LEONARDO VIECELI

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