sexta-feira, 13 de dezembro de 2019


12 DE DEZEMBRO DE 2019
OPINIÃO DA RBS

Sensatez ao Sul

Para o bem de ambos e do Mercosul, Brasil e Argentina parecem começar a desarmar os espíritos e deixar para trás as recentes hostilidades, vocalizadas especialmente pelo presidente Jair Bolsonaro e pela contraparte, Alberto Fernández, empossado na segunda-feira. O distensionamento iniciou-se ainda durante a semana passada, com a oportuna visita do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a Buenos Aires, quando o novo mandatário do país vizinho sinalizou ao deputado a intenção de buscar uma boa convivência com o governo brasileiro, propósito reafirmado em seu discurso de investidura no cargo.

Fernández teve os seus dias de escorregadas verbais e simbólicas, mas recobrou a sensatez. Corrigiu o rumo e agora vai na direção correta ao ressaltar que, para os dois países, unidos pela história e pelo determinismo geográfico, não há outro caminho que não o da integração, que precisa passar por cima das diferenças ideológicas dos governantes de ocasião. Mesmo que não existam simpatias pes- soais, são os interesses duradouros comuns dos Estados que devem prevalecer. Na linha da moderação e da crítica à polarização, Fernández acertou ainda ao assegurar que não pretende romper com organismos internacionais e ao conclamar a população argentina a sepultar a era do ódio e do rancor.

Um clarão de bom senso também iluminou Bolsonaro, ao voltar atrás na absurda posição de boicotar a posse de seu agora colega. O equívoco histórico que estava prestes a se materializar partia mais uma vez da noção distorcida de que gostos particulares podem sobrepor-se às funções institucionais do mais alto posto da República. 

O comparecimento do vice, Hamilton Mourão, na posse de Fernández ajudou a restabelecer a dimensão do evento e foi um indicador de que será possível reconstruir pontes com a Argentina, um dos mais relevantes parceiros do Brasil tanto no aspecto comercial quanto estratégico. O general, aliás, tem se mostrado um exímio bombeiro das relações internacionais brasileiras, de certa forma repetindo a missão que cumpriu exemplarmente no início do ano, em viagem à China, desfazendo mal-estar criado ainda na época da campanha eleitoral.

Mourão resumiu bem a questão: Brasil e Argentina precisam se ajudar. Já bastam os problemas internos que ambos enfrentam. Não há sentido em criar e alimentar uma frente de tensão entre o Planalto e a Casa Rosada. Se o pragmatismo necessário vai mesmo triunfar, os próximos anos dirão. Mas, neste momento, deve ser saudada a busca por serenar ânimos e o aceno recíproco à cooperação.

OPINIÃO DA RBS

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