segunda-feira, 23 de dezembro de 2019



23 DE DEZEMBRO DE 2019
DAVID COIMBRA

A risada do Bira

Quando soube da notícia da morte do Bira, do Sexteto do Jô, o primeiro pensamento que me ocorreu foi: "Oh, que pena, ele tinha uma risada tão boa?".

Vasculhei por alguns escaninhos da internet e constatei que a maioria das pessoas citava o mesmo ao falar dele. Quase todos lembravam da sua gargalhada divertida e meio inocente, que ecoava do fundo do cenário sempre que acontecia algo divertido no programa.

Poucos dos que vi lamentando sua morte o conheciam de fato como o meu amigo Maurício Noriega, que contou ter sido o Bira um dos maiores incentivadores da sua carreira na TV. Imagino que o Bira fez isso com bom humor, sem gravidade, tornando leves as decisões profissionais que o Noriega haveria de tomar. Porque era essa a impressão que ele passava, ao rir daquele jeito, no Programa do Jô: de ser uma pessoa de bem com a vida, que gostava das outras pessoas. Um querido.

Que felicidade a desse homem, que é lembrado pela sua risada. Todos nós morreremos e deixaremos cá pedaços do que fomos. Uns marcarão sua existência debaixo do sol pelo dinheiro que acumularam, suas grandes empresas, suas casas de pedra, seus bens valiosos. Outros talvez sejam reconhecidos por alguma obra intelectual, pela poderosa família da qual foram patriarcas ou, quem sabe, até pelos gols que marcaram. Haverá ainda os maus, que, ao desaparecerem, provocarão suspiros de alívio. Mas o Bira é o primeiro homem que conheço que deixou a gargalhada como legado.

É inspirador. Porque o Bira contaminava o telespectador com o riso. Ele ria e quem o via rir ria também. Era uma endemia de bom humor, de coisas boas e bons sentimentos. A risada do Bira fez bem ao mundo, este mundo que precisa tanto de risadas.

Não foi uma derrota maravilhosa

Ontem o Potter me mandou mensagem alertando que se multiplicavam pelas redes memes usando um título antigo de coluna minha, quando escrevi que o Grêmio teve "uma derrota maravilhosa" no Campeonato Brasileiro. Os memes, é claro, caçoavam do Flamengo, que perdeu para o Liverpool, mas foi incensado pela maioria dos comentaristas brasileiros, que disseram, em outras palavras, exatamente isso: que o time do Rio teve uma derrota maravilhosa.

Não teve.

O Flamengo até dominou o jogo durante 25 minutos do primeiro tempo, mas sem criar chances de gol. O Liverpool, ao contrário, desperdiçou seis oportunidades: duas com Firmino (na terceira ele marcou), duas com Salah, uma com Keita e outra com Mané. O Flamengo só teve uma chance real, no fim da prorrogação, com Lincoln.

Há dois anos, o Grêmio obteve números melhores do que esses. E o Grêmio entrou em campo com um time pior do que o Flamengo para jogar contra um Real Madrid melhor do que o Liverpool. Naquele jogo, o Real, que foi muitíssimo superior, fez um golzinho de falta, com Barrios se abaixando na barreira, e conseguiu uma bola na trave em um chute de longe de Modric, e nada muito mais importante.

A derrota do Flamengo não foi vergonhosa. Mas de maravilhosa não teve nada.

O irresistível

As excelências do Flamengo nesse jogo estiveram em diagonais opostas do time: na ponta-esquerda e na lateral-direita. Rafinha é o tipo de jogador que, com sua liderança e personalidade, dá grandeza ao time. E Bruno Henrique, pernalta como um guepardo, grande como um urso, habilidoso como uma serpente, Bruno Henrique é irresistível. Mas havia alguém melhor do que eles em campo: Virgil van Dijk é um Beckenbauer. É difícil marcar gol em um time que tem um zagueiro desses.

DAVID COIMBRA

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