28 DE DEZEMBRO DE 2019
CARPINEJAR
Veteranos
Há outdoors dizendo que você envelheceu: quando a filha menstrua ou quando o filho aparece com barba de bode, ou quando eles voltam das festas no meio da manhã, ou quando decidem morar sozinhos ou quando casam ou quando entram na universidade. São letras garrafais de uma verdade: suas crianças não são mais crianças, não dependem mais de você como antigamente, o convívio será semanal, talvez mensal.
Mas também existem pequenos cartazes da rotina apontando para a sua maturidade indisfarçável.
Um deles é a pelada com os amigos. Eu jogo futebol na segunda-feira em uma quadra do colégio Bom Conselho. São sete anos de ritual, sempre às 20h. Lá encontrarei Dal Molin, Valdemar, meu irmão Rodrigo, Dirceu, Fernando, Frodo, Daniel, Adriano, Horácio, Cristiano, Luciano, Zé Leão, Luis e Glauber, entre os decanos fundadores.
Quando faltava jogador para completar os 12 apóstolos, convocávamos marmanjos de contato superficial. Era uma busca desesperada por alguém com a mínima noção, mesmo que seja para atuar no gol. Em vacas magras no calendário, como dezembro, época de festas para todos e férias para alguns, já chegamos a improvisar quatro de cada lado e mentíamos nas mensagens do grupo que havia sido um enfrentamento memorável.
Agora, os peladeiros, diante da ausência de quórum, não sofrem mais com expedição pela agenda do WhatsApp, pois deram para chamar os seus filhos. Os recursos humanos partem da própria casa.
Filhos? Antes eram bebês de colo, mascotes de nossos confrontos, que mal tinham força nas pernas. Hoje são adolescentes. Ninguém percebeu como cresceram tão rápido.
São fortalezas de vigor e vontade, com o dobro de nossa altura. Virou atração de circo: os anões e os gigantes.
É engraçada a disparidade em campo. Eu jogava contra gente de minha idade, na faixa dos 40 a 50 anos, até me sentia poderoso e artilheiro. Podia sair de uma noite com cinco gols no bolso.
Com as crias dos comparsas, se estufo as redes, é por acidente. A bola bateu em mim, não fui eu que a chutei.
Vem ocorrendo a infiltração de categorias de base na disputa dos veteranos. É difícil acompanhar o ritmo. Não ganharei uma bola no fundo da quadra pela imposição física, nem usando os cotovelos.
Pouco a pouco, há mais jovens do que velhos, a partida é mais deles do que nossa. Com a mistura, passamos a nos lesionar com frequência (oferecendo além de nossas possibilidades) e eles vão preenchendo as suplências com os seus amigos da mesma idade.
Logo nem saberemos os nomes dos atletas, seremos penetras em nossa confraternização, obrigados a nos apresentar e explicar de onde viemos e de quem somos os pais.
O envelhecimento bate à porta antes dos grandes eventos de transição de nossos rebentos, nós é que não atendemos.
CARPINEJAR
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