16 DE DEZEMBRO DE 2019
ALÍVIO E ESPERANÇA
No ritmo das concessões e das reformas
Economistas apontam que a retomada mais consistente da construção civil e dos investimentos privados para aumento de produção (FBCF) dependerá de conjunto de medidas a partir do próximo ano. Segundo especialistas, o ritmo mais intenso passa pelo avanço de concessões em infraestrutura e pela agenda de reformas, duas das promessas do governo Jair Bolsonaro.
- É fundamental recuperarmos investimentos. Então, é necessário acelerar concessões em infraestrutura e, na medida do possível, resgatar projetos públicos na área. Isso pode gerar demanda na construção e acelerar o PIB (Produto Interno Bruto) - destaca o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Para a pesquisadora Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), a confirmação da agenda de reformas tende a reduzir incertezas no país. Com isso, pode atrair mais investidores ao Brasil, emenda a economista.
- Os aportes na área de infraestrutura estão comprometidos por dificuldades do setor público. É preciso reduzir incertezas e atrair investidores. As reformas demoram para ter efeito, mas vão nesse sentido - conclui Juliana.
No terceiro trimestre, os investimentos corresponderam, em valores correntes, a 16,3% do PIB, taxa inferior ao período pré-crise.
Construção civil no Estado registra sinais de retomada
Puxado pelo segmento de novas edificações, setor tem primeira alta trimestral desde 2014 e acompanha tendência nacional
Atingida em cheio pela crise econômica, a construção civil ensaia retomada. Depois de 21 trimestres de variação negativa ou nula, a atividade voltou a crescer no Rio Grande do Sul. Entre julho e setembro, o setor teve alta de 2,2% frente a igual período do ano passado. Ou seja, foi o primeiro avanço desde o início de 2014, indicam dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE), órgão vinculado ao governo estadual.
A sinalização de melhora acompanha tendência nacional. No país, a construção subiu 4,4% no terceiro trimestre, ante o mesmo intervalo de 2018, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a segunda alta consecutiva após 20 reduções.
- O que fez a construção crescer no Rio Grande do Sul foi o segmento de novas edificações. Isso faz parte de movimento nacional, onda que começou em outros Estados e foi se espalhando. É preciso ver se vai permanecer ou não - analisa o economista Martinho Lazzari, pesquisador do DEE.
Entre empresários do setor, o discurso é de otimismo. Diretor da GC Engenharia, Paulo Vanzetto Garcia afirma que 2019 representou período de "transição", com "ajustes" para os próximos anos. Ele ressalta que o juro básico no menor patamar histórico melhora condições de financiamento e tende a estimular novos negócios. Com sede em Porto Alegre, a GC Engenharia concluiu três empreendimentos neste ano, com valor geral de vendas (VGV) estimado em R$ 80 milhões. Para 2020 e 2021, a projeção é de lançamentos com VGV de R$ 120 milhões, conta Garcia.
- No nosso setor, precisamos de indicadores de que a economia está melhorando. Ninguém compra uma casa se olhar para frente e só ver coisas ruins. Estamos bastante otimistas para os próximos anos - relata o empresário.
Empecilhos
Mesmo com sinais de alento, a construção segue distante de recuperar todas as perdas causadas pela crise. Atividade está cerca de 30% abaixo do patamar do primeiro trimestre de 2014, período anterior à recessão, diz o IBGE. Por trás desse cenário, há empecilhos no ramo de infraestrutura. O avanço de projetos na área é abalado pelo quadro fiscal do país, que reduziu investimentos públicos, e por dificuldades financeiras de grandes empreiteiras.
De janeiro a outubro, a construção abriu 124,5 mil vagas com carteira assinada, mostram dados do Ministério da Economia. No Rio Grande do Sul, a situação foi inversa, com fechamento de 1,6 mil empregos formais.
Tradicionalmente, além de ser intensiva em mão de obra, a construção também apresenta impacto sobre os investimentos realizados por empresas para ampliação da capacidade produtiva. Depois de ser golpeado pela recessão, o indicador que mede o nível dos aportes passou a subir no país nos últimos trimestres. Segundo economistas, a explicação para as recentes altas está relacionada, em parte, aos sinais de melhora na construção.
O indicador de investimentos tem nome extenso: formação bruta de capital fixo (FBCF). Contempla, por exemplo, recursos destinados à compra de máquinas e equipamentos. Ou seja, serve como termômetro para analisar o grau de confiança dos empresários com o rumo da economia.
No terceiro trimestre, os aportes subiram 2,9% ante igual período do ano passado. Nesse tipo de recorte, o avanço foi o oitavo em sequência, informa o IBGE.
- Depois de cair durante a crise, o desempenho da construção ficou positivo. Está ajudando os investimentos a avançarem - diz Claudia Dionísio, gerente de contas trimestrais do IBGE.
O economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, observa que os aportes privados encontram cenário "na direção correta", mas pondera que a base de comparação ainda é fraca. Mesmo com recentes elevações, o indicador de FBCF está em torno de 23% abaixo do nível registrado no início de 2014.
LEONARDO VIECELI
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