sexta-feira, 1 de novembro de 2019



01 DE NOVEMBRO DE 2019
DISTRITO C

Empresário fala sobre desafios da indústria criativa

Em meio à apresentação, o empresário Jorge Piqué brinca: - Costumo dizer que a expressão "indústria criativa" tem dois problemas: a palavra "indústria" e a palavra "criativa".

A fala, na quarta-feira, no auditório do coworking Fábrica do Futuro, no bairro Floresta, em Porto Alegre, serviu para elucidar alguns desses conceitos e, uma vez esclarecidos, apresentar o trabalho do Distrito Criativo, ou Distrito C, uma das iniciativas dos últimos anos que buscam promover inovação na Capital. Principal projeto da empresa de Piqué, a UrbsNova, o Distrito C tem como metas o desenvolvimento econômico dos empreendedores criativos da região do Floresta e a transformação urbanística do local.

Piqué esclarece que "indústria" vem de "industry", o que significa setor, e não uma espécie de fábrica. Já o termo "criativa" engloba mais do que parece. Não se limita a artistas e afins, reunindo qualquer negócio que envolva a venda de produtos com valores simbólicos. Um exemplo ajuda a explicar:

- Por que razão um antiquário está no Distrito C? Porque aquele liquidificador da década de 1950 não é vendido apenas para fazer bebidas. Ele está ali e é vendido naquele local porque carrega símbolos de uma época, como o design, ou a nostalgia, a beleza. Aliás, há casos em que o objeto nem sequer funciona. Nesse caso, o que está à venda é apenas o simbolismo dele.

Por essa lógica, uma fábrica de roupas não faria parte da indústria criativa, mas um ateliê de moda, sim. Uma fábrica de tijolos, não. Mas um escritório de arquitetura, sim. Um "bandejão" de comida a quilo, não. Mas o restaurante de um chef, sim. E assim por diante.

Iniciado em 2013, o Distrito C reúne 100 estabelecimentos, a maioria entre as Avenidas Farrapos e Cristóvão Colombo. Considerando restaurantes, galerias de arte, coworkings, antiquários, ateliês, escolas, bares e afins, são cerca de 300 empreendedores e 1,5 mil empregos envolvidos. Além de parcerias entre os estabelecimentos participantes, o Distrito C promove passeios, ações de melhorias do espaço urbano e eventos públicos. O maior deles, o Dia C, foi realizado em maio.

Os negócios envolvidos giram em torno de três eixos econômicos: conhecimento, criatividade e experiência, porém é comum que se misturem. Pode ser o caso de um guitarrista que, num mesmo local, mantém um estúdio para ensaiar (criatividade), dá aulas para ganhar dinheiro (conhecimento) e transforma o ambiente em um bar em determinado momento do dia (experiência).

- E que fique claro que o principal objetivo do Distrito C é o desenvolvimento econômico de um setor, e não a qualidade artística ou relevância cultural deles. Não queremos fazer nenhum tipo de curadoria, queremos ajudar as pessoas que investiram aqui a vender seus produtos. Para isso, precisam do quê? De clientes.

Patrimônio

Piqué compartilhou, também, as preocupações do Distrito C com um dos principais pontos de atração da região: o patrimônio histórico, tomado de prédios de estilos arquitetônicos surpreendentes e variados. Embora não seja arquiteto, o empresário, que tem formação em literatura e linguística, vê os prédios como um fator de geração de curiosidade e investimentos.

Entre suas maiores frustrações, esteve o fracasso da tentativa de sediar a Bienal do Mercosul de 2015 longe do Centro Histórico, no prédio de uma antiga importadora, na Avenida Bahia. O proprietário do local, diz ele, não acreditava que o espaço atrairia o público tomado de obras de arte:

- Os organizadores da Bienal estavam empolgados, mas sabe o que eu ouvia do proprietário? "Piqué, Piqué... Estamos em Porto Alegre!"

O objetivo do Distrito C, portanto, é que a frase ouvida pelo empresário um dia se torne um argumento favorável a iniciativas tão inusitadas.

CAUE FONSECA

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