20 DE NOVEMBRO DE 2019
PORTO ALEGRE
"Morreu como heroína", conta amiga de vítima de latrocínio
Morta em uma tentativa de roubo enquanto caminhava na Cidade Baixa, na Capital, na madrugada de segunda-feira, Nathana Stephany Marques Gay, 23 anos, não tinha parentes próximos vivos. Mas ao longo da vida, conseguiu unir amigos e construir a família pela qual era amparada mesmo sem laços de sangue. Foram eles que acompanharam o sepultamento da jovem no final da manhã de ontem no Cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre.
- Era leve mesmo tendo perdido a mãe cedo. Isso a fez amadurecer rápido. Nat nos ensinou que tu podes fazer tua própria família - conta a estudante de Ciências Sociais Gilse Mattos, 23 anos, amiga da vítima desde que tinham 10.
Foi ao defender uma amiga que Nathana levou um tiro na cabeça na Rua da República, quando estava com outras duas meninas. A jovem de 20 anos que vive em Alvorada e foi protegida pela vítima conta que elas saíram de um bar na Rua José do Patrocínio para ir a casa de uma delas. O trio decidiu ir pela República por ser mais movimentada, evitando vias que estavam desertas naquele horário. Foi quando foram surpreendidas por um criminoso:
- Estávamos caminhando a menos de um minuto na República, quando um cara chegou e anunciou o assalto. As gurias correram e eu paralisei. Aí, ele puxou a alça da minha pochete por trás e caí no chão, de joelhos. Foi aí que a Nat voltou e peitou o cara. Saí correndo e ouvi aquele barulho (do disparo). Morreu como he- roína, que era o que sempre fazia. Os amigos eram tudo para ela - lembra a jovem que pediu para não ser identificada.
A Polícia Civil não divulga detalhes para não atrapalhar as investigações, mas o titular da 1º Delegacia de Polícia, delegado Paulo César Jardim, não descarta que três pessoas tenham participado da ação: o homem que atirou e outras duas pessoas que estariam em um carro usado na fuga. A polícia trata o caso como latrocínio.
Na segunda-feira, dia do assassinato, Nathana começaria em novo cargo na corretora de seguros da qual era empregada desde março. Segundo amigos, de recepcionista passaria a ser assistente administrativa. O velório e o enterro foram pagos pela empresa, que tem sede na Cidade Baixa.
- Ela se sentia muito bem lá e adorava o fato de poder ir a pé para o trabalho - lembra Gilse.
Mobilização
No domingo, Nathana e a amiga que ela defendeu passaram a tarde na orla do Guaíba. À tarde, encontraram outras duas, incluindo Gilse, em um bar da Cidade Baixa. Gilse não estava na cena do crime por ter decidido voltar mais cedo para casa.
- Quando fui embora, a Nat me acompanhou até em casa e depois voltou. Ainda disse que não precisava, mas ela insistiu. A Nat era assim: mãezona da gente - recorda.
Segundo amigos, Nathana não tinha pai e perdeu a mãe havia seis anos, aos 17.
- Se tivesse de dar a vida para salvar um amigo, daria. Faria o que fez por qualquer amigo. Para nós, que enterramos a mãe dela, agora termos de enterrá-la também, dói muito - comenta a mãe de um amigo de Nathana.
Foi graças à mobilização dos amigos que o corpo de Nathana foi liberado ainda na segunda- feira. Como não havia familiares para fazer reconhecimento no Departamento Médico Legal (DML), a mãe da menina que foi defendida por Nathana precisou fazer solicitação à Justiça. A pressão dos amigos no Fórum, acredita a mulher, foi fundamental para acelerar a autorização para que o corpo de Nathana pudesse ser reconhecido e velado por eles.
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