16 DE NOVEMBRO DE 2019
BEM-ESTAR
QUERER E NÃO QUERER
Dias atrás, depois de uma palestra, conversei com um grupo de estudantes sobre escolhas. A preocupação deles é não saber ainda com clareza o que querem e nem pra onde se direcionar. E, ao mesmo tempo, ter que lidar com tantas pressões e obrigações que a sociedade vai nos impondo no caminho.
Muitos não se sentem bem com as opções que se apresentam, e a insegurança aumenta.
A gente não precisa, logo de cara, saber o que quer. Aliás, essa é uma grande tarefa para a vida toda. A cada minuto a gente tem de fazer escolhas e em cada momento de transição parece que a liberdade da gente fica por um fio.
Mas liberdade não significa necessariamente saber o que a gente quer. Ser livre não implica ter descoberto todos os desejos. A gente vai conquistando a liberdade a cada passo, mesmo sem saber pra onde se vai, e é fundamental não sermos obrigados a seguir direções que não queremos de jeito nenhum.
Liberdade significa não aceitar caminhos impostos, padrões impostos, rótulos, papéis, comportamentos e regras com as quais não nos identificamos. Não ser o que não nos traduz.
Começar sabendo o que a gente não quer e sacando o que a gente não é, já tira da frente um monte de coisa que não nos interessa. E vai facilitando as nossas escolhas.
Uma boa parte da felicidade resulta dessa liberdade de poder fazer o que se gosta e de gostar do que se faz. De poder descobrir quem a gente é e trabalhar para se tornar essa pessoa.
Essa é uma escolha primordial e uma maneira da gente se orientar na vida.
Em qualquer situação, temos essa possibilidade, independentemente das circunstâncias em que vivemos.
Alguns podem alegar que isso é um privilégio, mas é preciso compreender que isso é simplesmente uma perspectiva, um jeito de olhar a vida, seja sua vida qual for.
O poeta português José Régio, em seu maravilhoso Cântico Negro, diz:
"Não sei por onde vou. Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí."
Esse poema traz a rebeldia de não aceitar a direção que nos obrigam a ir, de não deixar que nos transformem naquilo que não queremos ser.
Somos todos interdependentes e nossas vidas são conectadas. Mesmo assim, não precisamos nos tornar aquilo que os outros querem que a gente seja, se essa não for a nossa verdade.
Temos que resistir a ser empurrados para um caminho que não queremos ir, temos que respeitar o que somos e sentimos para poder achar a nossa felicidade.
Nossa missão é essa, encontrar isso tudo: decifrar o que somos e queremos, nossas emoções, crenças, desejos, vontades, nossas loucuras, nossos medos, toda a complexa teia de sensações que nos envolve.
Seguimos caminhos difíceis, vamos errando, nos enrolando, complicando, porque é assim mesmo que vamos descobrir aos poucos nossa verdadeira identidade.
A gente embarca numa jornada mesmo sem ter ainda uma ideia do nosso rumo. Se joga sem ter noção de onde isso nos leva.
Mas quando a gente sabe o que não quer, fica mais simples encontrar tudo o que somos e podemos ser.
Lembrando o verso de Antonio Machado que resume isso: "Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar?".
Bruna Lombardi escreve a cada 15 dias neste espaço. Na próxima semana, leia a coluna de Monja Coen.
BRUNA LOMBARDI
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