sábado, 16 de novembro de 2019



16 DE NOVEMBRO DE 2019
MÁRIO CORSO

Cão de raça ou vira-lata?

Nem todos que gostam de cachorro gostam de cães de raça. Existe uma tensão entre os cinófilos sobre o tema. Eu sempre me mantive neutro. Gostava das incríveis variações que foram feitas a partir do primeiro lobo domesticado. Através dos criadores, a plasticidade genética mostra toda a sua possibilidade. Dá para acreditar que um mastim e um chihuahua partilham a mesma carta genética?

Mas, quando saímos da estética e paramos para pensar no custo em sofrimento animal do nosso prazer em fabricar raças, o pêndulo vai para o outro lado. Claro, existem feitos maravilhosos, não é qualquer cão que pode ser guia para deficientes visuais. Uma seleção e um trabalho incrível aconteceram nesse e em outros casos.

Minha questão é outra, por exemplo, as pernas curtas dos dachshunds, resultado de uma má-formação na estrutura óssea advinda de cruzamentos endogâmicos. Geralmente na meia-idade, eles têm sérios problemas de coluna. Bem o contrário, em outras raças, o alongamento das pernas pode resultar em displasia coxofemoral precoce.

Ou seja, vale a pena o sofrimento pelo prazer estético de obter uma criatura bizarra? Para termos animais de bolso, que cabem em qualquer apartamento, vale miniaturizar nossos companheiros de planeta para serem bibelôs vivos?

Ainda, você já se perguntou por que cachorro de raça dá muito mais veterinário do que o vira-lata? Porque o outro lado dos cruzamentos consanguíneos é aumentar as chances das doenças recessivas, que todos os animais portam, mas o acaso genético dissolve.

Quem compra cachorros de raça raramente sabe que pode estar comprando a fixação de uma deformação genética. Alguns animais só existem pela teimosia dos criadores e são inviáveis para a vida sem cuidados veterinários. Na juventude já começam os problemas, como se fossem precocemente velhos, são cardiopatas, respiram mal, possuem incontáveis problemas de pele, otites crônicas, corrimento lacrimal persistente, epilepsia, diabete, torção estomacal, enfim, a lista é longa... Você não compra um cão, e sim um mico. É cara para todos a ideia de parecer chique que o cachorro de raça supostamente emprestaria.

Não vamos generalizar, existem raças que foram planejadas por aptidões específicas, como as que trabalham no campo ao lado do homem, por exemplo, que levam uma boa vida e não perderam a necessária rusticidade natural. Minha crítica endereça-se às raças de cães de companhia.

Quando for a vez do próximo mascote, pense no bem-estar do seu amigo peludo, e em seu bolso, que vai alimentar a cadeia de cuidados que ele vai exigir. Reflita se não vale mais a pena adotar um cãozinho que teve a sorte de receber genes misturados, portanto mais chance de estar longe da nossa brincadeira de ser Deus e editar a vida.

MÁRIO CORSO

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