sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Jaime cimenti

Sete de Setembro, sonhos com o Brasil

Sou brasileiro, profissional da esperança, sonhador. Muito sonhei, mais vou. Em 1964, com dez anos, na sala de aula em Bento Gonçalves, sonhei com liberdade, democracia e um País melhor. Em 1968, no Julinho, Porto Alegre, sonhávamos com rebeldia, paz e amor, poder da flor, faça amor não faça a guerra, mudança e proibição de proibições.

O ano não terminou. O sonho não acabou, John. Nunca acaba. Em 1974, amordaçados, entrando no Direito da Ufrgs, sonhávamos os sonhos possíveis e depois os impossíveis, em meio aos anos de chumbo. Na Praça Montevideo, numa noite clara de 1984, junto com muitas torcidas, com dezenas de milhares de cidadãos, sonhei com as Diretas Já, gritei, protestei.

Ao som de Coração de estudante, em 1985, sonhei com Tancredo, mineiro repleto de sonhos loucos libertários como os de Tiradentes. Pouco deu para sonhar com Sarney e Collor. Itamar, Fernando Henrique, Plano Real, o maior ato de todos nós, em todos os tempos, na História do Brasil, tornou real o sonho de acabar com a inflação. Lula, Dilma, novos sonhos, novas realizações. Sonhos e protestos nas ruas em 2013. Eleições 2014, promessas, polarização inicial, morte de Eduardo Campos, reviravoltas, um x-tudo de coligações e acordos, eleitores perplexos, o eterno efêmero da vida moderna e a vida rolando.

O Brasil não é para amadores. Saudade de Tom Jobim, dos tempos da bossa nova, um de nossos maiores tesouros. O Brasil é mais para se amar do que para entender, como, aliás, devemos fazer com nós mesmos e com os próximos. Sonho com partidos fortes, democracia adulta, liberdade, voto distrital, campanhas com recursos, processos, debates e programas tipo nos Estados Unidos.

Sonho com municípios e estados mais fortes num novo pacto federativo. Sonho com menos impostos, com gastos públicos menores e melhores. Sonho com menos corrupção e um parto menos demorado e dolorido para nosso Brasil. Pode me chamar de sonhador. Não sou o único. A vida é sonho e os sonhos, sonhos são, não é Calderón? J.L. Borges, pouco antes de morrer, falou para não esquecermos dos sonhos.

Abaixo a distopia, gurizada. E dá-lhe Mario Quintana: Das utopias/Se as coisas são inatingíveis...ora! /Não é motivo para não querê-las.../Que tristes os caminhos, se não fora/A presença mágica das estrelas! Sonhador, sim, mas não iludido.

</>Jaime Cimenti

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