Jaime Cimenti
Luzes e sombras das ilusões do
poder
O dia em que Getúlio matou
Allende e outras novelas do poder, do professor, jornalista e escritor gaúcho
Flávio Tavares, teve lançamento em 2004, foi sucesso de crítica e de público e
esgotou oito edições. O livro, que mescla acontecimentos da vida pessoal de
Flávio com fatos históricos e personagens da política, recebeu, em 2004, o
Prêmio Jabuti e o Prêmio APCA de Melhor Livro da Associação Paulista de
Críticos de Arte. O jornal O Globo apontou o título como uma das dez “grandes
obras literárias do ano”.
Dez anos depois, em nona edição
revista e atualizada, (L&PM Editores 320 páginas), a narrativa humana e
direta de Flávio oferece aos leitores os labirintos que desembocaram na maior
tragédia política do Brasil moderno: o suicídio do presidente Getúlio Vargas em
1954, ponto de partida que tece a teia da narração e constrói a alegoria do
título.
Professor aposentado da UNB,
vítima da ditadura no Brasil, nos anos 1970 Flávio exilou-se no México,
Argentina e Portugal. Em 1999, lançou-se na literatura com Memórias do
esquecimento, premiado com o Jabuti de 2000.
O golpe derrotado, Meus treze
dias com Che Guevara e O golpe são as outras obras do autor, que há décadas
exerce a crônica política em vários órgãos da imprensa brasileira. A memória do
autor o conduz para acontecimentos desde os anos 1950 até o golpe de 1964.
Em 1950, Flávio foi dirigente
estudantil e passou a conhecer os desvãos da política. Salvador Allende,
Getúlio Vargas, Lott, Juscelino, Jânio Quadros e João Goulart aparecem nus, ou
literalmente de cuecas, em meio a paixões, atos de governo, amores, manobras e
traições.
A trama que leva aos momentos
finais de Getúlio desponta como moderna e fascinante tragédia de Shakespeare.
Relatos em torno de Hitler, Stalin, De Gaulle e Perón emolduram uma história
que Guevara contou a Flávio em 1961, presságio do seu trágico destino na
Bolívia, anos depois. O mágico relato sobre a pintora Frida Kahlo mostra o
amor, o fanatismo político e como o poder é encantador e frágil.
Como se o destino surgisse numa
sucessão de espelhos, o autor mostra aqui que, “afinal de contas, nenhum reino
vale muito mais do que um cavalo” e convida o leitor a saborear as luzes e
sombras das ilusões do poder.
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