sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Jaime Cimenti

Luzes e sombras das ilusões do poder

O dia em que Getúlio matou Allende e outras novelas do poder, do professor, jornalista e escritor gaúcho Flávio Tavares, teve lançamento em 2004, foi sucesso de crítica e de público e esgotou oito edições. O livro, que mescla acontecimentos da vida pessoal de Flávio com fatos históricos e personagens da política, recebeu, em 2004, o Prêmio Jabuti e o Prêmio APCA de Melhor Livro da Associação Paulista de Críticos de Arte. O jornal O Globo apontou o título como uma das dez “grandes obras literárias do ano”.

Dez anos depois, em nona edição revista e atualizada, (L&PM Editores 320 páginas), a narrativa humana e direta de Flávio oferece aos leitores os labirintos que desembocaram na maior tragédia política do Brasil moderno: o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954, ponto de partida que tece a teia da narração e constrói a alegoria do título.

Professor aposentado da UNB, vítima da ditadura no Brasil, nos anos 1970 Flávio exilou-se no México, Argentina e Portugal. Em 1999, lançou-se na literatura com Memórias do esquecimento, premiado com o Jabuti de 2000. 

O golpe derrotado, Meus treze dias com Che Guevara e O golpe são as outras obras do autor, que há décadas exerce a crônica política em vários órgãos da imprensa brasileira. A memória do autor o conduz para acontecimentos desde os anos 1950 até o golpe de 1964.

Em 1950, Flávio foi dirigente estudantil e passou a conhecer os desvãos da política. Salvador Allende, Getúlio Vargas, Lott, Juscelino, Jânio Quadros e João Goulart aparecem nus, ou literalmente de cuecas, em meio a paixões, atos de governo, amores, manobras e traições.

A trama que leva aos momentos finais de Getúlio desponta como moderna e fascinante tragédia de Shakespeare. Relatos em torno de Hitler, Stalin, De Gaulle e Perón emolduram uma história que Guevara contou a Flávio em 1961, presságio do seu trágico destino na Bolívia, anos depois. O mágico relato sobre a pintora Frida Kahlo mostra o amor, o fanatismo político e como o poder é encantador e frágil.


Como se o destino surgisse numa sucessão de espelhos, o autor mostra aqui que, “afinal de contas, nenhum reino vale muito mais do que um cavalo” e convida o leitor a saborear as luzes e sombras das ilusões do poder.

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