07 DE MARÇO DE 2022
PORTO ALEGRE
Lançamentos de imóveis subiram 19% no ano passado
Segmento de alto padrão segue mais aquecido do que o de baixa renda, que sente mais a pressão de inflação e juro altos
O mercado imobiliário em Porto Alegre terminou 2021 aquecido. A Capital registrou 2.870 lançamentos de imóveis residenciais verticais entre janeiro e dezembro do ano passado, o que representa aumento de 18,93% em relação a igual período de 2020.
Os dados são de pesquisa do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS). O levantamento da entidade é realizado em parceria com a Alphaplan - Inteligência em Pesquisas e a Órulo. Mesmo com o bom desempenho em 2021, inflação e juro em elevação, ano eleitoral e possíveis impactos da tensão bélica no leste europeu podem desaquecer alguns segmentos do setor, segundo especialistas.
O valor geral de vendas (VGV) subiu de R$ 2 bilhões para R$ 3,6 bilhões na comparação entre os dois anos. Marcelo Bettio, diretor da Alphaplan, destaca que o avanço nos lançamentos na linha de imóveis de luxo em 2021 explica esse salto no VGV.
Presidente do Sinduscon-RS, Aquiles Dal Molin Junior afirma que o maior número de lançamentos está ligado ao aquecimento do mercado no último ano. O segmento de alto padrão tem participação importante nesse processo, segundo o executivo. Além desse fator, Dal Molin Junior cita a agilidade de trâmites para liberação de empreendimentos.
- Houve uma maior velocidade na liberação dos projetos por parte da prefeitura, o que aumentou os números de lançamentos - comenta o dirigente.
O professor Alberto Ajzental, coordenador do curso de Negócios Imobiliários da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que o setor teve bons resultados em parte de 2021, principalmente diante de juro baixo até a metade do ano. A estimativa de aumento da taxa Selic também incentivou compradores a adquirir imóveis antes da sequência de altas.
Em relação aos lançamentos, o professor afirma que a escalada está muito ligada às análises do mercado imobiliário em 2020. Como são empreendimentos de longo prazo, o crescimento de lançamentos tem certa relação com o aquecimento do mercado observado naquele ano, mas que começou a perder força. O direcionamento das construtoras para imóveis de luxo também influencia nesse sentido, pois os compradores desse segmento sofrem menos com a crise econômica, destaca Ajzental:
- Quando a gente fala de inflação, dessa crise que a gente está vivendo, a pressão é muito maior em cima das famílias mais pobres do que das mais ricas. É gritante a diferença. A inflação rouba renda. Então, sobra menos dinheiro para comprar imóvel, lazer e vestuário, porque é necessário se concentrar nos itens de sobrevivência. Tem também o desemprego, que afeta os mais pobres, tirando toda a renda.
Alternativa
O diretor Enio Pricladnitzki, da Wikihaus Incorporadora, afirma que o setor de classe média alta segue pujante. No ano passado, a empresa não teve lançamentos, mas conta com cinco em 2022. Além da inflação pressionar menos as classes mais altas, a venda desse tipo de imóvel avança também diante da possibilidade de investimento, segundo Pricladnitzki:
- Ele segue pujante porque, quando você tem um período de incerteza ou inflação alta, por um lado há aqueles que querem ganhar dinheiro com a inflação. Por outro, há aqueles que, por já terem vivido muitos períodos inflacionários, querem garantir em "tijolo", que é uma coisa que não vai perder valor. Vira um investimento.
Em relação às vendas de imóveis, Porto Alegre anotou 4.693 - 282 a menos do que o total apurado em 2020. Já o estoque caiu de 7.199, em 2020, para 6.636 no acumulado de 2021. Bettio, da Alphaplan, diz que as quedas ocorrem pela mudança metodológica. Desde maio de 2021, a pesquisa não leva em conta imóveis dos programas Minha Casa Minha Vida e Casa Verde Amarela nesse indicador.
ANDERSON AIRES
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