quarta-feira, 27 de agosto de 2025


27 de Agosto de 2025
MÁRIO CORSO

Dormindo com o inimigo

Igor Eduardo Pereira Cabral, ex-jogador de basquete, é o desqualificado que destruiu o rosto da sua namorada com 61 socos. O crime gerou revolta nacional. Juliana Garcia dos Santos ainda está no processo de reconstrução da face.

A estupidez do ato trouxe algo insólito, Igor recebeu cerca de 1,5 mil (o número já deve ser maior) de e-mails de mulheres amorosamente interessadas nele. Depois dele mostrar tanta covardia e crueldade, o que elas querem com ele?

O fenômeno é velho conhecido da comunidade psi. Acontece em todo o mundo e chama-se hibristofilia - paixão por criminosos. Homens também apaixonam-se por bandidas, porém esse comportamento choca mais quando há mulheres envolvidas. Elas são em maior número, até porque criminosos homens abundam.

Certos esportes radicais zombam da morte. Por exemplo, o Everest é um cemitério de aventureiros. Casar com um psicopata seria como um esporte radical?

A questão não é tão simples. Freud disse que uma das formas de paixão (no caso narcísica) se dá por amar alguém que nos representa, que já fomos ou que gostaríamos de ser. Um criminoso é quem fez algo que a maioria só faz em fantasia, dar total vazão a sua agressividade.

Para pessoas com muita agressividade reprimida, um criminoso é um herói íntimo. Além do mais, ele seria verdadeiro, afinal, não esconde - como elas - a brutalidade que traz dentro de si. Quem se apaixona por um criminoso, apaixona-se pela vontade de potência que supõe nele e quer usufruir deste poder.

Como se as contradições fossem poucas, quem se enamora do criminoso quer também redimi-lo, quer provar que pode neutralizar seus malfeitos. No caso do Igor, as apaixonadas acreditam, delirantemente, que o efeito de sua presença amorosa operaria tais transformações. Elas supõem que a mulher que apanhou falhou onde elas não falharão. Elas saberiam entender e domar o monstro, e quanto maior o monstro, maior será o orgulho pela redenção da besta.

Quem pratica esportes radicais não quer morrer, mas só sente a intensidade da vida desafiando a morte. Quem busca um psicopata, também busca intensidade, o perigo faz parte do encanto. Colocar em risco a integridade é o preço dessa aventura. 

MÁRIO CORSO

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