
Próximos passos do tarifaço para o Brasil
Enquanto esperam o plano de ajuda, empresas e setores mais afetados pelo tarifaço calculam o custo da tentativa de lobby nos Estados Unidos e traçam o cronograma de oportunidades para tentar rediscutir o absurdo tratamento recebido por um dos poucos países com os quais o país de Donald Trump tem superávit, ou seja, ganho nas trocas comerciais.
Ao contrário do que anunciou na véspera o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a proposta ainda não foi entregue ao Planalto. Isso faz com que o anúncio das medidas, já atrasado, tenda a ficar para a próxima semana. Essa é a primeira data relevante que exigirá avaliação dos exportadores.
Na semana seguinte, há duas datas no calendário na defesa contra a guerra comercial deflagrada por Trump. E como um dos prazos cai no final de semana, o dia 18 será crucial. Será o limite para que os EUA respondam à consulta feita pelo Brasil à Organização Mundial do Comércio (OMC). O mais provável é que nada aconteça, e o pedido do Brasil se arraste, como se previa com a adoção dessa medida simbólica.
No dia 18, Brasil contestará USTR
No mesmo dia, haverá outro compromisso, esse sim com alta expectativa. O Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) deu prazo até dia 18 para que o Brasil envie comentários por escrito sobre a investigação que envolve do Pix à Rua 25 de Março, em São Paulo, passando pelo etanol.
- O Itamaraty está coordenando a preparação da resposta a ser apresentada pelo governo brasileiro dia 18 de agosto - confirmou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, na última terça-feira.
Esse documento, por sua vez, será base para outro momento crucial, em 3 de setembro. É para quando está marcada audiência pública no âmbito do mesmo processo, na qual podem participar o governo brasileiro e "partes interessadas", ou seja, os setores afetados podem ter direito a fala. A Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), porém, não tem intenção de participar. _
Bancada de Bolsonaro deixa claro o que está "acima de tudo"
Se não fosse sustentado pelo dinheiro do contribuinte, seria apenas patético. Usando recursos que fazem falta em todas as latitudes, o motim parlamentar da noite de quarta-feira passará à história como um dos episódios mais vergonhosos do Congresso. Para o Brasil como país, mas principalmente para seus protagonistas.
Boa parte da bancada do ex- presidente Jair Bolsonaro no Congresso deixou claro o que sempre esteve "acima de tudo": os interesses da família e de seus seguidores. Mesmo acuado, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi certeiro no diagnóstico:
- Não podemos deixar que projetos pessoais e até projetos eleitorais possam estar à frente do que é maior que todos nós: o nosso povo.
A frase é demagógica, sim, porque o currículo de Motta não é exemplar. Mas é importante que ele caracterize esse comportamento, porque ajuda a furar a bolha da polarização cega. O mesmo fez Ciro Nogueira (PP-PI) ontem, ao afirmar que as cenas no parlamento foram "lamentáveis". Chegou a haver tentativa de usurpação de poder, com a transformação da cadeira de Motta em troféu.
Deputados com fita crepe aplicada sobre a boca, em hipotético símbolo de censura, retiravam o adereço assim que eram chamados a dar entrevista. Há excessos? Sim, há, alguns cuidadosamente provocados. Mas se houvesse censura no Brasil - como havia no regime que sempre foi admirado pela família Bolsonaro -, não haveria chance sequer desse gesto ridículo. _
"Venda dentro da venda" na Braskem
Ao apresentar seus resultados do segundo trimestre, a Braskem detalhou, ontem, a estratégia de "venda dentro da venda" que tem uma unidade gaúcha no centro. Conforme o CEO da companhia, Roberto Ramos, foi aprovada a separação dos "ativos verdes" para busca de investidores até o final do ano. Hoje, a maior planta de resina plástica produzida a partir de etanol de cana-de-açúcar fica em Triunfo e foi recentemente ampliada.
A coluna quis saber como esse negócio se conecta à negociação da venda da fatia da controladora da Braskem. Ramos respondeu assim:
- Claro que um novo acionista pode reavaliar projetos, mas desde dezembro, quando definimos a estratégia, temos apresentado a vários interlocutores, inclusive ao doutor Nelson Tanure, que concorda que a Braskem deve buscar competitividade.
Tanure é o polêmico empresário que está analisando a compra do controle da Braskem por meio de seu fundo Petroquímica Verde.
Segundo Ramos, a Braskem busca, para o negócio chamado Green Company, um sócio que fique com entre 20% e 25% do capital total. O perfil buscado é de um fundo que participe do aumento de capital para novos projetos de "plástico verde". O mais avançado será na Tailândia, e está em estudo outra unidade na Bahia, com etanol de agave.
O Rio Grande do Sul está contemplado em outro pilar do projeto de ganho de eficiência da Braskem, que prevê a mudança da matéria-prima da nafta líquida, derivada do petróleo, para gás, que tem custo menor.
O que preocupa a companhia é a "concorrência desleal" de produtos chineses, que provoca níveis recordes de ociosidade. Segundo Ramos, a Braskem opera no momento com cerca de 68% de uso da capacidade instalada nas unidades básicas e entre 70% e 72% nas que produzem resinas plásticas. O prejuízo líquido do segundo trimestre foi de R$ 45 milhões, com dívida bruta chegando a R$ 49 bilhões.
Crescimento um pouco menor
Primeira instituição financeira privada do Brasil, fundada em 1902 em Nova Petrópolis, o Sicredi vinha crescendo a um ritmo de 30% ao ano entre 2019 e 2023. O dilúvio do ano passado interrompeu esse movimento. O grupo se envolveu de forma intensa do resgate à reconstrução, mas a retomada dos negócios ocorreu em velocidade um pouco menor, mais perto de 20%. Claro, ainda é muito.
Um dos motivos desse crescimento acelerado é a presença, diz Márcio Port, presidente do conselho de administração na Central Sicredi Sul/Sudeste. No RS, tem agências em 484 cidades, 97,4% do total. Em 32 municípios, é a única instituição financeira disponível. Estar fisicamente perto dos clientes, avalia, aumenta a confiança.
- No Estado, o Sicredi é o maior financiador do agro em quantidade de operações, são quase 45% do total de contratos de crédito próprio. Em volume, o Banco do Brasil é um pouquinho maior. Atendemos muito o pequeno produtor, a agricultura familiar. E a pessoa jurídica também é muito forte no Estado, é nosso segundo pilar. Hoje, 37% da carteira de crédito do Estado é de pessoa jurídica, são 290 mil empresas associadas, das quais 95% são micro e pequenas empresas - detalha Port. _
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