
07 de Agosto de 2025
COMPORTAMENTO
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Herança de gerações: o que atrai o público para livrarias e sebos em Porto Alegre
De acordo com dados da pesquisa Cultura nas Capitais, 72% dos porto-alegrenses pegaram um livro na mão nos últimos 12 meses, enquanto a média nacional é de 62%. A reportagem conversou com leitores e profissionais do mercado para entender os principais motivos
Rene Almeida
Em um final de tarde, a taróloga Sabrina Amaral, 36 anos, procura atentamente um livro de sua área de atuação nas prateleiras de um sebo no Centro Histórico de Porto Alegre. Conta que, desde pequena, acompanha os pais nos sebos e livrarias da cidade. Naquele dia, estava com as duas filhas, que procuravam seus títulos preferidos na sessão infantil.
- Por mais que tenhamos os meios digitais, o livro em si passa uma mensagem diferente. É como se conseguíssemos mergulhar naquela história, naquele ensinamento - destaca Sabrina.
Seu gosto por livros não é um caso isolado. A pesquisa nacional Cultura nas Capitais revelou que Porto Alegre é a capital brasileira em que a população tem mais acesso a livros e feiras de literatura. De acordo com o levantamento, 72% dos porto-alegrenses haviam pegado um livro na mão nos 12 meses anteriores à entrevista, enquanto a média nacional é de 62%.
Em visitas a estabelecimentos da capital gaúcha, é possível entender esses números. A servidora pública Cristina Popovich, 56 anos, que foi com a filha Sophie, 17 anos, a uma livraria de um shopping da Capital, conta que incentiva a jovem a ler desde criança, com média de um livro por mês.
- Gosto sempre de estar presente nas livrarias. É um espaço tranquilo, uma ilha no mundo louco em que vivemos. Servidora em uma biblioteca pública, ela vê Porto Alegre como uma cidade que favorece o gosto por livros.
Diversidade
Na livraria que Cristina visitou com a filha, há grande diversidade de títulos, e o cheirinho de exemplares novos chama a atenção. Logo na entrada, na parte dos lançamentos, os mais vendidos e as sugestões fisgam os clientes. Além dos livros, há espaços de leitura e outros produtos, como materiais escolares, presentes, brinquedos e produtos de informática.
Já nos sebos - como são chamadas as lojas que compram e vendem livros usados -, a proposta é outra. As imediações da Praça da Alfândega são um polo desse tipo de comércio, principalmente nas ruas dos Andradas, Riachuelo e General Câmara. A localização é estratégica: ali, os sebos atraem pessoas que circulam por pontos como a Casa de Cultura Mario Quintana, o Cais Embarcadero, o Mercado Público e a própria Praça da Alfândega.
Vendedores ouvidos pela reportagem afirmam que o movimento maior de clientes ocorre nos sábados à tarde. As faixas etárias dos leitores vão de crianças a idosos. A variedade de títulos também é enorme: desde livros técnicos e didáticos, passando por esotéricos e espirituais, até gibis antigos e livros infantis. No entanto, os líderes de vendas são os livros de literatura.
O preço é um dos principais atrativos: há exemplares a R$ 5 ou R$ 10 na parte dos saldos. Outros, mais raros, chegam a custar R$ 1 mil ou R$ 2 mil. Juan Schenkel, 34 anos, dono do Sebo Café Riachuelo, conta:
- Às vezes, você coloca um livro e pensa que não vai vender nunca, mas acaba vendendo. No sábado passado, tinha um gibi sem as capas. Um menino olhou e leu a parte de fora, que estava toda rasgadinha. Ele pagou R$ 5 e comprou. _
Leitura no digital "não pegou", diz comerciante
Peter Dullius, 75 anos, dono do sebo Beco dos Livros, acredita que houve um aumento na procura por livros nos últimos anos - para ele, a leitura no digital "não pegou". Nesse contexto, os sebos são um local nostálgico, segundo o comerciante:
Aqui, você pode ver o livro que leu quando era criança, o que não conseguiu comprar na época ou que perdeu. Muitas pessoas que vêm aqui perderam livros na enchente. É aquele livro que ganhou de presente, do qual tem uma lembrança.
Dullius acredita que diferentes fatores ajudam a explicar o gosto do porto-alegrense pela leitura.
Destaque para a importância das feiras
Outro dado que chama a atenção na pesquisa Cultura nas Capitais é que as feiras do livro são consideradas o evento cultural mais importante da Capital - esse tipo de atividade é mencionado por 25% dos moradores, maior índice entre todas as 27 capitais, cuja média é de 4%.
Para o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, a pesquisa reforça a importância da Feira do Livro de Porto Alegre que, para ele, tem a função de levar o livro a um público que normalmente não tem acesso:
- Ficamos felizes de fazer parte desses números. O acesso ao livro é muito importante. A Feira tem esse papel fundamental de incentivar, criar o hábito da leitura e dar acesso ao livro.
A 71ª Feira do Livro de Porto Alegre ocorrerá entre os dias 31 de outubro e 16 de novembro na Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre.
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