
08 de Agosto de 2025
CARPINEJAR
Sangue de barata
Eu me tornei colorado não devido a um plantel ou a um jogador, mas à torcida. O verdadeiro torcedor se apaixona pela torcida, não por um momento feliz ou uma fase de sucesso.
Você se identifica com quem está ao seu lado na arquibancada, mais do que com o elenco fardado em campo. Os jogadores passam, a direção passa, a torcida fica.
Quando pisei pela primeira vez no Beira-Rio, aos cinco anos, e vi aquela massa vermelha gritando, eufórica, aquelas bandeiras lutando contra o vento, aquele brilho de olhar rivalizando com o sol, eu defini o meu destino para sempre.
Mas o que a direção vem impondo aos torcedores não possui antecedente. É sadismo. É tortura. É humilhação. Você fala, fala, fala, e ela não escuta. Você vaia, vaia, vaia, e ela finge que não é aqui.
São 150 mil sócios que pagam as mensalidades com esforço, tirando de seus proventos familiares.
Transformamos o Inter no segundo clube com o maior quadro de associados do país, atrás apenas do milionário Palmeiras. É um sacrifício num Estado castigado pelos efeitos da enchente do ano passado.
O que o Inter oferece em troca? Quatorze anos sem título relevante. Trinta e três anos sem Copa do Brasil. Quarenta e seis anos sem Brasileiro. Há pouco, amargávamos nove anos sem ganhar um Gauchão, sem cumprir o básico do básico.
São desertos de glórias. O clube só existe porque tem a torcida. Só sobrou a torcida. E nem ela mais aguenta o apequenamento moral da instituição. Como convencê-la a frequentar o estádio, a resistir no frio, na chuva, no tédio, para assistir a um time dependente do VAR, que apenas consegue gol de pênalti?
Não dá nem para declarar "sou colorado doente" - um pleonasmo, o time é que anda doente. Roger Machado não teve uma apresentação convincente na temporada. Substitui esquemas e mantém o padrão tático da impotência, da ineficiência, da ruindade.
Um erro bisonho é culpa do atleta, dois erros bisonhos em mata-mata são culpa do treinador, provenientes de uma crise técnica generalizada. Inter voltou pior depois da parada de um mês, voltou pior treinado. Não é que ele ressuscita mortos, ele é o morto. Levamos goleadas do Botafogo e do Corinthians, dormimos no descenso, e o treinador permaneceu, de modo incompreensível, cheio de crédito. Haveria tempo de recuperação das lesões.
Retornamos perdendo consecutivamente em casa, e nada foi alterado na casamata. Ocorreria a Copa do Brasil. Caímos da Copa do Brasil por um frágil Fluminense, e não aconteceu nenhuma mudança da comissão. Porque há, ainda, a Libertadores.
Vamos cair da Libertadores, para a presidência declarar que se mostra confiante na evolução no decorrer do Brasileiro. Vamos entrar na zona de rebaixamento, e a presidência achará natural a irregularidade, propondo mobilizar o grupo: agora toda partida será uma decisão.
Vigora a cultura do fracasso, o sangue de barata, já que é a 13ª eliminação de uma competição dessa gestão.
O que não é normal é ter um técnico vencedor no comando. Até a mentalidade vitoriosa é intrusa. Alguém lembra que Abel Braga, campeão do mundo, foi dispensado após ser vice do Brasileiro? Somente não colocou a faixa no peito por erros de arbitragem. Ele empreendeu uma campanha lendária, e acabou desligado. Era bom demais para continuar.
Nossos dois atacantes Valencia e Borré recebem, somados, R$ 3 milhões por mês. Para não acertar um lance. Para sequer chutar no alvo. Recentes contratações, como Kaique Rocha, Diego Rocha e Nathan, nem atuaram e já se encontram liberadas.
Se houvesse Procon, o Inter já estaria fechado por entregar ao seu consumidor um futebol vencido, desanimado, estragado.
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