
Como e por que o PCCse infiltrou na Faria Lima
Se na revenda de combustíveis a infiltração do crime organizado já era denunciada por integrantes do segmento, a presença do PCC no coração da Faria Lima, símbolo do mercado financeiro no Brasil, era menos óbvia. E chegou não só a operadoras digitais (fintechs) pouco conhecidas, mas a grandes empresas, com ações negociadas na bolsa de valores, em tese entre as mais vigiadas do país.
Dos 350 alvos de busca e apreensão, 42 foram na Faria Lima, dos quais o mais impactante foi na Reag Investimentos, uma das maiores gestoras independentes (sem ligação com bancos). Conforme a Polícia Federal (PF), cerca de 40 fundos estão sob suspeita de utilização pelo PCC. É um alerta para o elevado grau de profissionalização do crime organizado. Em um país em que a digitalização cresceu, os delinquentes acompanharam.
Até agora, a maior suspeita sobre a Reag era sua forma não ortodoxa de ter ações negociadas na bolsa, alvo de investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), conhecida como "xerife do mercado". Em janeiro, havia comprado a GetNinjas, que já tinha credenciais para operar até no chamado Novo Mercado. Em tese, esse nicho exige controles mais rigorosos do que a média das companhias de capital aberto (como são chamadas as empresas que negociam na bolsa). Em nota, a empresa informa que está "colaborando integralmente com as autoridades".
Se as suspeitas da PF se comprovarem, os motivos da infiltração estão claros. Ter uma operação com essa chancela é importante para quem precisa de credibilidade - e liberdade - para lavar grandes quantias de dinheiro. E a forma de desembarque em um setor considerado elitizado no Brasil foi semelhante à forma de chegada à produção e revenda de combustíveis: a compra de participações em empresas estabelecidas do segmento. Os fundos geridos por esse tipo de empresa permitem que a origem dos recursos seja camuflada a ponto de tornar quase impossível o rastreamento. Ao que tudo indica, quase. _
Ultra (Ipiranga) decolou 8,6%, Vibra (BR) saltou 4,7% e Cosan (Raízen e Shell) subiu 2,5%, mas Reag despencou 13,5% ontem.
Como Al Capone e "os intocáveis"
Na entrevista em que detalhou a megaoperação contra o PCC, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou que, em 2023, foi criada uma equipe na Receita Federal para investigar fraude estruturada. A ideia era estudar e identificar mecanismos financeiros sofisticados, como os usados pela facção criminosa.
Segundo o ministro, foi um dos instrumentos que permitiram detectar o complexo esquema financeiro usado tanto para organizar desde o controle de empresas quanto produtoras de etanol até a ocultação e gestão de patrimônio obtido de forma criminosa nos fundos protegidos por várias camadas de "investidores".
Em vez de combater o crime pela ponta do varejo, no pequeno traficante ou golpista de ocasião, desta vez a operação mira o atacado, ou seja, nos donos do dinheiro. Tem semelhança, guardados os cenários históricos e tecnológicos diferentes, com a montagem do time conhecido como "os intocáveis", comandado por Eliot Ness, agente do Departamento do Tesouro (nos EUA, o equivalente ao Ministério da Fazenda no Brasil).
A equipe desvendou o esquema e condenou Al Capone por "simples" (perto dos assassinatos ordenados pelo mafioso) evasão de imposto de renda.
Desta vez, ponto para Eliot Ness. Mas esse tipo de operação não pode ser um raro ponto fora da curva. Precisa ser recorrente para asfixiar de fato o crime cada vez mais organizado. E digitalizado. _
Sobretaxas e ação antidumping beneficiam Braskem e Gerdau
Depois de dois anos de pressões, o Brasil adota sobretaxas a resinas plásticas vindas de EUA e Canadá. Na quarta-feira, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex) decidiu aplicar cobrança temporária por seis meses sobre a importação de resinas de polietileno (tipo de plástico) dos dois países.
Em agosto de 2023, em evento da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) para "sensibilizar" parlamentares, o problema da importação via Zona Franca de Manaus (ZFM) havia sido exposto no polo de Triunfo. A principal empresa beneficiada é a Braskem, que teve prejuízo no segundo trimestre.
Em tese, a ZFM permite importar sem impostos insumos, partes e peças que teriam lá um processo industrial, ainda que simplificado, e o produto final fica isento de tarifas. No caso das resinas plásticas, segundo diagnóstico feito na época, o material importado em condições benéficas não passava por transformações posteriores.
Além da sobretaxa sobre resinas plásticas, o Gecex também contemplou parcialmente um pedido da indústria siderúrgica: tarifas antidumping sobre folhas metálicas de aço carbono da China. A "invasão chinesa" havia sido apontada pela Gerdau, de origem gaúcha, como principal motivo da demissão de 1,5 mil funcionários entre janeiro e julho e uma anunciada, mas não detalhada, desistência de investimentos no Brasil. _
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