quinta-feira, 7 de agosto de 2025


07 DE AGOSTO DE 2025
OPINIÃO

Artigos - O valor de uma SAF: esqueça a planilha, exija o futuro

Fernando Carvalho - Consultor do FootHub e ex-presidente do Sport Club Internacional

Tentar colocar um preço em um clube de futebol com as regras do mercado tradicional é o primeiro erro na criação de uma SAF. A paixão da torcida, a imprevisibilidade do campo e os passivos históricos não cabem em planilhas financeiras comuns. O verdadeiro valor de uma negociação não é um número, mas a soma dos compromissos que o investidor assume para garantir o futuro da instituição.

O dirigente que senta à mesa de negociação precisa entender duas regras de ouro. A primeira: a SAF não é uma medida para apagar incêndios do dia a dia, e sim uma decisão estratégica que definirá o clube para sempre. Segunda: não se pode ter a ilusão de que o investidor entregará um cheque em branco para a antiga gestão. O dinheiro novo virá com uma gestão nova, e o diretor deve exigir "o que você garante", não "quanto você paga". A negociação deve ser construída sobre três pilares inegociáveis:

Competitividade - exigir investimento real em estádios e centros de treinamento, além de uma suplementação orçamentária para que o clube possa competir em pé de igualdade com seus maiores rivais.

Perenidade - a quitação total das dívidas passadas é condição essencial. O clube precisa nascer de novo, sem os fantasmas que o assombraram por décadas.

Sustentabilidade - o projeto não pode ser um "voo de galinha". São necessárias garantias jurídicas e financeiras firmes de que o plano de investimento será cumprido a longo prazo.

Em resumo, o valor da SAF é uma equação clara: dívidas pagas + estrutura modernizada + orçamento fortalecido + garantias contratuais.

Cada clube é um universo particular, com sua cultura e suas dores. O torcedor, compreensivelmente, sonha com craques e títulos imediatos. Mas o papel do dirigente responsável pela negociação da SAF é focar no que realmente constrói um futuro vitorioso. O discurso sedutor de trazer "estrelas" jamais deve ser o principal argumento para a venda de um clube. Um clube forte nasce de governança e processos sólidos. A SAF só vale a pena quando ela não apenas resolve o passado, mas financia, de verdade, a eternidade do futuro. _

O silêncio da maioria: o desafio da verdadeira nova política

Artur Lemos

Secretário-chefe da Casa Civil do governo do RS

Vivemos um tempo curioso. Nunca se teve acesso tão amplo à informação - e, paradoxalmente, nunca se esteve tão exposto à desinformação. Aquilo que poderia consolidar uma democracia mais aberta e plural vem sendo sufocado por vozes e movimentos estridentes que pouco representam a maioria e acabam por tornar imperceptível seu silêncio.

A real nova política, mergulhada no ambiente digital, precisa encarar um dilema: a gritaria das redes não traduz a vontade popular. O que ganha visibilidade são os extremos - aqueles que berram mais alto. Enquanto isso, os milhões que vivem a rotina real - trabalham, estudam, pagam contas e votam - são, em geral, silenciosos. Mas não irrelevantes.

Lidar com esse cenário exige mais do que reflexos midiáticos. Requer escuta sensível e ativa. O silêncio da maioria não deve ser confundido com ausência de opinião. É, muitas vezes, uma forma de resistência a um debate raso e polarizado. Essa maioria não é omissa. Está cansada do ruído, desconfiada dos extremos e disposta a apoiar quem entrega com seriedade.

Muitos se recolheram porque não se veem em meio aos gritos - e só se expressam, com contundência, quando chega a hora do voto. Na última eleição presidencial se optou não por quem mais inspirava confiança, mas por quem menos provocava rejeição. É aí que a política precisa estar mais preparada: para ouvir não apenas o que viraliza, mas o que amadurece no íntimo da sociedade. Há quem, mesmo pressionado por grupos organizados e barulhentos, siga focado em servir ao todo. Há quem, mesmo ciente do desgaste, escolha governar com responsabilidade.

É o caso do governador Eduardo Leite, que desde o início de sua trajetória no Executivo enfrentou temas difíceis, promoveu reformas relevantes e manteve um norte claro: fazer o que precisa ser feito. E continuará disponível para conduzir o que for necessário, se isso significar entregar um Estado mais eficiente.

Num tempo em que o barulho tenta se passar por vontade coletiva, governar também é saber distinguir o eco do grito. Porque é no silêncio - denso, legítimo e cada vez mais impaciente - que mora a verdadeira expectativa de um país que quer seguir em frente sem precisar gritar por isso. _

Direto da Redação

Tulio Milman

tulio@tuliomilman.com.br

Uma coluna chata

Esta é uma coluna chata, enfadonha, desinteressante. Aviso logo no início, para que você desista antes de lê-la, se assim desejar.

Não vou falar sobre polarização, tarifaço, guerra ou outros temas mais inflamáveis, aqueles que rendem engajamento, certezas absolutas e cliques indignados. Hoje, quero falar sobre algo que considero bom, o que, convenhamos, anda meio fora de moda.

Outro dia, passei pelo 4º Distrito de Porto Alegre. Vi as cicatrizes da enchente. Mas vi também algo mais forte: a força da reconstrução. Vi portas reabertas, tintas novas, gente fazendo o que sabe fazer. Vi resiliência em estado bruto. O Instituto Caldeira, por exemplo, está maior e melhor do que antes.

Vale o mesmo para as entradas da cidade. Vale para bairros inteiros. Vale, em alguma medida, para todo o Estado. Há um ano, se alguém dissesse que estaríamos como estamos hoje, seria chamado de otimista demais, ou de ingênuo. E, no entanto, aqui estamos. De pé. Em frente.

Hoje, assumi um compromisso comigo mesmo: não vou ficar nos poréns. Não vou completar cada avanço com um "mas ainda falta". Hoje, a levada é outra: reconstruímos, investimos, cuidamos. Avançamos em muitas frentes. E devemos nos orgulhar disso.

Celebrar tem valor. Não é só gesto simbólico: é ferramenta de sanidade. Ajuda a manter a energia, a autoestima, a união. Quem nunca celebra cansa. Quem só aponta falhas paralisa. A celebração não é alienação. É combustível. É ela que nos permite seguir em frente sem perder o ânimo nem a esperança.

Celebrar não é fechar os olhos para o que ainda dói. A lógica perversa da radicalização tenta nos convencer de que elogiar é trair, que reconhecer um esforço é desmobilizar, que aplaudir algo significa vaiar o que se coloca como oposto. Não caia nessa armadilha.

E lá vou eu pedir desculpas outra vez, pela eventual pieguice.

Mas quero lhe fazer um pedido: olhe em volta e escolha um motivo para celebrar. Qualquer um. Por menor que seja,

E alegre-se. Sem culpa. Você merece. O universo agradece. 

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