
Os setores que concentram impacto do tarifaço no RS
Estudo detalhado sobre a maior exposição de produtos gaúchos à tarifa de 50% imposta ao Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, confirma que 85% do valor exportado para lá em 2024 ficou fora da lista de exceções. Mas esse universo, acrescenta a análise do núcleo de Competitividade, Economia Regional e Indústria da Unisinos, coordenado pelo professor Marcos Lélis, representa apenas 7,2% das exportações feitas no RS para todos os países no ano passado. O peso menor no conjunto ajuda a entender por que o tarifaço deve ter baixo impacto no PIB, mas pode ser desastroso para empresas.
Ao listar os mais afetados de forma potencial, o grupo descobriu um dado: os 20 setores mais atingidos representam 93% das perdas potenciais. E um desses segmentos tem uma situação peculiar: o de autopeças aparece entre as exceções, mas só porque é um dos que receberam tarifas setoriais, como aço e alumínio. A alíquota é de 25%, mais alta do que os 10% básicos, mas os fabricantes locais não perdem competitividade internacional porque todos os países estão submetidos a essa taxa.
É importante avaliar os dados no detalhe, diz Lélis, para desenhar saídas mais adequadas que de fato protejam negócios e empregos. Observa, por exemplo, que empresas e setores têm cobrado liberação de créditos de ICMS ao governo do Estado.
Cadeia de suprimentos
Embora considere improvável que o pedido seja atendido, dada a situação fiscal do RS, o economista diz que, caso isso ocorra, beneficiaria apenas a exportadora, não sua cadeia de suprimentos. Isso poderia representar a sobrevivência da empresa A ou B, mas seus fornecedores não teriam a quem vender. E isso não interessa aos compradores, porque em caso de volta a alguma normalidade, poderia não encontrar mais de quem adquirir componentes.
Como coordenador de um grupo dedicado à análise da economia regional, Lélis ressalta ainda outra assimetria de impacto. Assim como o RS é mais afetado do que a média nacional, determinadas regiões do Estado podem enfrentar mais dificuldades. O economista observa que o setor mais prejudicado - produtos de fumo - se concentra na região de Santa Cruz do Sul, enquanto o segundo e o terceiro estão no Vale do Sinos.
- O efeito nos PIBs nacional e estadual será baixo como média, mas, dependendo da região, pode ser alto - pondera o economista. _
Sob maior risco
Os 20 setores gaúchos mais impactados
Setor US$ milhões em 2024*
Processamento
de fumo 238,8
Equipamento
bélico (armas) 170,2
Calçados 137,5
Produtos de metal 104,8
Autopeças** 103
Desdobramento
de madeira 100
Geradores
e transformadores 95
Tratores e máquinas 83
Carne 68,3
Borracha 58,8
Cutelaria 49
Químicos orgânicos 48,4
Móveis 44,5
Resinas e elastômeros 44,2
Curtimento de couro 35
Alimentos para animais 27,1
Joalheria 22,5
Pecuária 22,1
Alimentos 19,2
Equipamentos elétricos 15,4
* Valores arredondados
** Embora haja exceção para autopeças, existe uma tarifa setorial de 25% para todos os países
Fonte: Núcleo CEI, Unisinos
Plano com sinais promissores e inquietantes
Deve ser conhecido a partir de amanhã o "plano de contingência" do governo federal, desenhado para ajudar empresas que mais dependem das exportações para os Estados Unidos e ficaram fora das 694 exceções previstas pela Casa Branca. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem dando pequenos spoilers, sem revelar medidas concretas porque, segundo ele, ainda dependem da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O que indicou até agora: devem ser de curto, médio e longo prazo, com características semelhantes ao pacote de socorro ao Rio Grande do Sul na enchente.
Os sinais dados por Haddad têm pontos promissores, mas também inquietantes. Entre os primeiros, está a extensão de medidas como o Reintegra de 3%, anunciado na semana passada para MEIs, micro e pequenas empresas. Trata-se de crédito tributário de 3% sobre o valor exportado. É um pedido dos setores afetados. Também é positiva a indicação de que haverá "proteção a empregos", mesmo sem definição do formato.
Dúvida em empregos
Há pontos que ficam a meio caminho entre a promessa e a inquietação. Um é de que o plano de contingência será contabilizado dentro da meta fiscal - ao contrário das medidas destinadas ao RS. É bom do ponto de vista do controle das contas públicas. Mas, como o limite é apertado, indica que o gasto pode ser pequeno.
O mais inquietante é a afirmação de Haddad de que a proteção aos empregos no modelo desejado pelas empresas, com ajuda do governo no pagamento de salário, é um dos cenários apresentados a Lula. Mas acrescentou não saber "qual cenário o presidente Lula vai escolher".
Como é exigido de quem defende a necessidade de equilíbrio fiscal, a coluna não defende ajuda a qualquer custo: é necessário calibrar urgências efetivas e danos reais. É preciso ser transparente sobre o que apoia, de fato, e o que é só anúncio protocolar. _
Ociosidade no polo preocupa
A coluna vem registrando os números preocupantes da alta ociosidade da indústria petroquímica no Brasil e no Estado. Conforme dados da Abiquim, associação nacional do setor, o nível médio atual, de 38%, é o maior em 30 anos. Um dos impactos da situação é a queda na arrecadação de impostos das empresas do polo de Triunfo.
Hoje, o prefeito do município, Marcelo Essvein, vai detalhar os dados sobre a receita pública em evento.
Também será lançado um manifesto em defesa do setor, com apoio de outros prefeitos do Consórcio dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal).
Conforme a Abiquim, a taxa média de utilização, ou seja, quanto da capacidade total é usada, está em 62%, o que representa queda de três pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2024.
Em Triunfo, ainda segundo dados da associação do setor, a indústria opera com cerca de 65% de uso de capacidade instalada. Além da Braskem, operam em Triunfo as indústrias do setor como Arlanxeo, Hexion, Innova, Polo e Indorama. _
Expectativa menor de inflação
O Relatório Focus do Banco Central registrou ontem a 10ª redução seguida na estimativa para inflação deste ano. Apesar da constante revisão, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) segue acima de 5%, mas agora com razoáveis chances de sair desse patamar.
O que mais ajudou, até agora, foi o declínio do dólar. Ao se situar em 5,07% nesta rodada, a estimativa para o ano é bastante menor do que há um mês, quando estava em 5,18%. Mas ainda está 0,57 ponto percentual acima do teto da meta para 2025.
Meta contínua
Neste ano, é bom lembrar, começou a vigorar o sistema de meta contínua. Em números, muda pouco: o objetivo é manter a inflação em 3%, com margem de tolerância, para cima e para baixo, portanto atingirá se ficar entre 1,5% e 4,5%. Nesse sistema, caso a inflação fique seis meses acima da meta, o presidente do BC precisa escrever uma carta pública para explicar os motivos pelos quais não alcançou o objetivo e apontar medidas que permitam ficar dentro do limite. _
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