
Alento de Haddad a exportadores precisa se concretizar
Conforme o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o "plano de contingência" do governo federal, desenhado para ajudar empresas que mais dependem das exportações para os Estados Unidos e ficaram fora das 694 exceções, ficaria pronto ontem. Mas seu anúncio, condicionou, depende do tempo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para quem espera com ansiedade essas medidas de apoio, foi um novo sinal ambivalente. Haddad acrescentou que Lula pediu uma lista de impactos por CNPJ, ou seja, empresa por empresa e mencionou a necessidade de "entender" o pedido presidencial. Sobrancelhas subiram.
O ministro sinalizou que a primeira etapa do plano não depende desse detalhamento, mas deixou dúvida. Afirmou, ainda, que é mais provável que seja editada medida provisória, para que tenha efeito imediato, mas também disse que o martelo será batido pelo Planalto.
- O ato em si não depende desse detalhamento, porque é um ato mais genérico - tentou tranquilizar.
Ao menos no discurso, Haddad tem dado sinais de que entende os problemas dos exportadores. Na véspera, fez um aceno à indústria calçadista, que tem importante polo no Estado, ao afirmar que "a maior preocupação" são produtos "feitos sob medida para os Estados Unidos", que não podem ser redirecionados facilmente. Muitas empresas calçadistas gaúchas vendem aos EUA no sistema "private label": fabricam sapatos que podem ser até desenhados pelos clientes para, depois, receber a marca de uma empresa americana. Em levantamento apresentado ontem, a Abicalçados, que representa o setor, estima que 80% das empresas serão afetadas. _
O dólar acumulou alta de 1,8% no dia 9 de julho, quando Trump avisou sobre a tarifa de 50% para o Brasil. Ontem, baixou 0,78%, para R$ 5,463, menor cotação desde 8 de julho, enquanto a bolsa teve alta firme de 1%.
Exposição à tarifa extra
No universo da família remunerada pelo contribuinte brasileiro que atua contra os interesses do país, poderia haver "reação" do governo de Donald Trump "a qualquer momento". O risco mais iminente, no caso absurdo de que essa ameaça se concretize, envolve extensão ao Brasil da "tarifa secundária" de 25% aplicada à Índia ontem.
Como a Índia já enfrentava taxa de 25% desde 1º de agosto, a partir de 27 de agosto passará ao total de 50% com a adicional e se juntará ao Brasil com a maior alíquota do mundo. Detalhe: até agora, Trump não aplicou qualquer tarifa diretamente à Rússia. E sim, os EUA têm comércio com o país de Putin, mesmo após as sanções impostas com a invasão da Ucrânia: em 2024, importaram US$ 3,3 bilhões, quase a metade disso em fertilizantes.
Ao menos, isso pode dar algum conforto aos que temiam "punição" porque o Brasil compra dos russos cerca de 26% desse insumo que vem do Exterior. Até por isso, Trump põe ênfase nos "compradores de energia" da Rússia. E veio da Rússia 39,1% do óleo diesel importado por empresas nacionais de janeiro a junho, o que eleva o risco de alguma aplicação adicional - sempre na irracionalidade que domina Trump e no oportunismo dos que ameaçam em seu nome. _
Por que o presidente do BC negou a "privatização do Pix"
Esperava-se muito da palestra do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ontem, no dia seguinte ao da publicação da ata sobre a decisão de manter o juro em 15% ao ano. Inesperada foi a decisão de adotar um compromisso fora da agenda: o de que o Pix não será privatizado.
- O Pix vai permanecer como uma infraestrutura pública digital, gerida pelo Banco Central. Essa decisão é essencial para garantir neutralidade, inclusão e concorrência justa - disse Galípolo.
Na terça-feira, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, conhecido como Conselhão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia feito manifestação semelhante:
- Não podemos nem sonhar, nem pensar, nem imaginar privatizar algo que não tem custo para cidadãos. Imaginar que vamos ceder à pressão de multinacionais que estão se incomodando com a tecnologia (...) está completamente fora de cogitação.
Mas quem falou em privatização, afinal? As declarações de Galípolo e Haddad sugerem interpretação das intenções com a abertura de investigação, por acusação de "prática desleal" pelo Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), a pedido de Donald Trump.
No final da "justificativa" para incluir o Pix na iniciativa, está escrito: "O Brasil também parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, entre outras, vantagens de seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo".
Ou seja, na visão do USTR de Trump, é um problema o Pix ter sido "desenvolvido pelo governo". Nessa ótica para lá de equivocada, uma "solução" poderia ser uma privatização. Claro, com a devida cobrança pelo serviço. _
Afetados devem ligar para o 03
Enquanto empresas calculam prejuízos com o tarifaço de 50% que entrou em vigor ontem, o filho zero-três do ex-presidente Jair Bolsonaro informa que está "trabalhando" para que os Estados Unidos adotem mais medidas contra o Brasil. Faz isso remunerado pelo contribuinte brasileiro - voltou a receber salário, mesmo depois de vencida sua licença -, com gabinete funcionando ao custo de R$ 123 mil mensais.
Em entrevista à jornalista Bela Megale, de O Globo, Eduardo Bolsonaro respondeu assim à pergunta sobre sua intenção de buscar mais "sanções" (palavra usada pela entrevistadora) dos EUA contra o Brasil, depois da prisão domiciliar de seu pai:
- Trabalho sim, neste sentido. Estou levando a prisão ao conhecimento das autoridades americanas e a gente espera que haja reação. Não é da tradição do governo Trump receber essa dobrada de aposta do Alexandre de Moraes e nada fazer. O que eles vão fazer, eu não sei. Não sei se isso vai passar pela mesa do Trump ou pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Espero que haja uma reação nos próximos momentos.
Tradição familiar
A tática de impor dificuldades para vender facilidades é uma tradição familiar. Mas em vez de grupos ou comunidades, agora é todo um setor econômico, o da exportação, que está sequestrado, com imposição da anistia que os favorece como resgate.
No capítulo 5 mil de uma série de ações inacreditáveis, o deputado federal que exerce suas funções nos EUA ainda afirma não ter recebido qualquer queixa do agronegócio ou de outros setores afetados:
- Até agora, nenhum fazendeiro ou produtor agrícola me ligou para dizer que eu deveria parar com as minhas ações. Pelo contrário. Tenho recebido parabéns e tido muito apoio nas redes sociais. As pessoas entendem que há um sacrifício a ser feito e que o pior mal é essa ditadura de toga comandada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Então, fica a dica de Eduardo Bolsonaro: quem estiver descontente deve avisá-lo.
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