terça-feira, 26 de agosto de 2025

 Orquestra Jovem Recanto Maestro celebra 10 anos de música como ferramenta de formação humana

Orquestra Jovem Recanto Maestro celebra 10 anos de atividades

Orquestra Jovem Recanto Maestro celebra 10 anos de atividades

Gabriel Gonçalves/Divulgação/JC

Adriana LampertRepórterA Orquestra Jovem Recanto Maestro (OJRM) comemora uma década de atividades em 2025, com a abertura de cerca de 200 vagas para crianças e jovens de cinco a 18 anos de idade, residentes na Quarta Colônia de Imigração, que tenham interesse em aprender musicalização e instrumentalização. Fundado no Recanto Maestro – centro de excelência em desenvolvimento humano e cultural, localizado entre os municípios gaúchos de São João do Polêsine e Restinga Sêca –, o projeto artístico e social tem o propósito de utilizar a música como uma ferramenta para o desenvolvimento de cidadãos com autonomia e identidade, promovendo disciplina, foco e trabalho em equipe. As inscrições podem ser feitas por email (secretaria@forma.org.br) e estão abertas até domingo (31).
Segundo o coordenador executivo da OJRM e da Filarmônica Ontoarte Recanto Maestro (Forma), Michael Penna, a celebração dos dez anos de existência da Orquestra Jovem Recanto Maestro marca a dimensão e o potencial da iniciativa. "Essa data representa a consolidação da orquestra na região, nos mostrando o tamanho e a qualidade deste trabalho, que tem educado as comunidades locais sobre a música clássica. Percebemos que esses estudantes e suas famílias estão cada vez mais presentes nas ações da orquestra", avalia. "A partir dessa base sólida, o objetivo agora é crescer e expandir, oferecendo um programa mais consistente para que os jovens possam continuar sua formação musical e artística", destaca Penna. A expectativa, segundo ele, é fechar o ano com 700 alunos, sendo 500 na etapa de musicalização e 200 no estudo de instrumentos de cordassopro e percussão.

As aulas acontecem em São João do Polêsine, Restinga Seca, AgudoSilveira MartinsFaxinal do Soturno e Santa Maria, além do Recanto Maestro. Além do ensino gratuito, o projeto oferece o empréstimo de instrumentos como violino, viola, violoncelo, contrabaixo, trompete, trompa, trombone, percussão, oboé, clarinete, fagote e flauta transversal. Nos seis municípios gaúchos, a jornada de aprendizado dos alunos começa com a musicalização de forma lúdica (com jogos, brincadeiras e coral), com exercícios práticos e pedagógicos de canto, movimentação corporal, tempo musical e ritmo. As aulas unem um repertório que se aproxima da realidade dos alunos, integrando canções que os estudantes escutam no seu dia a dia. "A ideia é que eles tenham o primeiro acesso à música de forma mais orgânica, através do estímulo do ritmo e do uso da voz", explica Penna. 
Em um segundo momento da formação, os estudantes são orientados a escolher um instrumento, em um processo que une o interesse do aluno e a observação do professor com a necessidade da orquestra. "Cada aluno vai sendo acompanhado pela equipe de professores, com cronogramas ajustados de acordo com as suas necessidades. Quando chegamos nessa fase, os professores auxiliam na escolha, levando em consideração as características e personalidades de cada aluno, além de fatores como disponibilidade de instrumento e necessidades da orquestra", detalha Penna. "Quando não é possível contemplar no interesse específico (no caso de instrumentos que já estão emprestados em comodato), a gente busca direcionar o aluno para um outro instrumento similar", emenda o coordenador executivo. 
Conforme evoluem nos fundamentos técnicos dos instrumentos, os estudantes são convidados a integrar a Orquestra Infantil de seu núcleo. Após essa etapa, os alunos com melhor desempenho são selecionados para a Orquestra Jovem Recanto Maestro. O projeto visa que, após a formação, os jovens possam seguir para a Forma, onde têm a possibilidade de seguir uma carreira profissional ou para outros projetos, como uma faculdade de Música. Para isso, a OJRM também mantém um programa de monitoria para alunos a partir de 16 anos, com bolsas-auxílio, visando prepará-los para essa trajetória. 
"Alguns acabam ingressando em outras áreas que não têm ligação com a música, mas levam consigo os aprendizados e a transformação humanista promovidos pelo projeto", pontua Penna, enfatizando que a ideia principal da iniciativa é "fazer a formação do ser humano através da música", desenvolvendo nas crianças e nos adolescentes um protagonismo responsável, além de auto-estima e satisfação frente aos seus resultados.

As celebrações dos dez anos da OJRM incluem ainda uma série de concertos e ações. Em julho deste ano, a orquestra recebeu o maestro espanhol Jordi Mora para uma residência artística. "Ele ficou dez dias preparando ensaios da orquestra, bem como fazendo treinamentos com quartetos de cordas, duos e trios e quintetos de sopro, e desenvolvendo um trabalho de qualificação em regência com professores da OJRM", conta Penna.

Recentemente, a orquestra também iniciou uma série de concertos didáticos nas cidades da região. Nessas ocasiões, estudantes de escolas municipais são levados aos núcleos de aulas de música para assistir aos ensaios e aprender sobre os instrumentos. A ação busca dar um "impulso de qualificação" para que as crianças e jovens envolvidos entendam o que é uma orquestra antes de entrar no projeto, ressalta o coordenador executivo.

A OJRM surgiu a partir dos projetos de flauta e de violão que aconteciam em São João do Polêsine nos anos 2000 e que se transformaram no projeto da orquestra, no verão de 2015, com a realização de uma imersão de dez dias com estudos sobre os instrumentos, que culminaram em um pequeno concerto na região da Quarta Colônia. O resultado do processo foi tão impactante para os alunos e os professores, que a iniciativa cresceu e passou a contar com aulas de outros instrumentos, sendo realizada, desde então, pela Associação Ontoarte e promovida pela Fundação Antonio Meneghetti, com apoio da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, da Antonio Meneghetti Faculdade e das prefeituras de todas as cidades atendidas. Em seu primeiro ano, a iniciativa contava com 50 alunos. Já em 2024, o projeto atendeu 443 estudantes em todas as etapas de ensino.  
De acordo com Penna, o principal desafio da expansão da OJRM nas cidades pequenas da Quarta Colônia de Imigração (em média, com cerca de 2 mil a 5 mil habitantes) foi a mudança de mentalidade das famílias. "No início, houve muita resistência", recorda. "Mas aos poucos, as pessoas foram se envolvendo e a formação das comunidades desses municípios para a música de concerto tem sido uma grande conquista", celebra.

Além de seus 70 integrantes, a Orquestra Jovem Recanto Maestro conta com o compositor residente Vagner Cunha, que cria peças e arranjos exclusivos, considerando o desenvolvimento pedagógico dos alunos. "Ele é importante nesse processo, pois facilita muito ter um compositor pensando nessa realidade, tanto cultural (com músicas que trazem elementos da cultura gaúcha, como chamamé e milonga), quanto repertórios clássicos (BeethovenMozart, etc)", destaca Penna. A abordagem pedagógica inclui ainda obras de música popular, como as de Gilberto Gil e Vitor Ramil, para que os alunos entendam que "música é música", independentemente do gênero, destaca o coordenador executivo. Ele revela ainda que, aos poucos, o projeto passou a ser importante não só para os alunos, mas também para as suas famílias. 
Nesta primeira década de existência, a Orquestra Jovem Recanto Maestro conquistou grande reconhecimento para além da Quarta Colônia, inclusive tendo sido o projeto foi vencedor do Prêmio Líderes e Vencedores, da Federasul, em 2023. "O mais importante nesse processo é o quão transformadora a música tem sido para essas comunidades, criando uma cena artística local, e mudando o comportamento e a educação de todos", considera Penna. 

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