
29 de Agosto de 2025
OPINIÃO RBS
O inacreditável poder do crime
A maior operação policial contra o crime organizado da história do país, deflagrada nesta quinta-feira por diversos órgãos de fiscalização e segurança - entre os quais o Ministério Público de São Paulo, o Ministério Público Federal, as Polícias Federal, Civil e Militar de São Paulo, e a Receita Federal -, atinge em cheio o principal grupo criminoso brasileiro e suas ramificações na área econômica, especialmente no mercado financeiro e na rede de postos de combustíveis.
Tudo é superlativo nesta megaoperação que abala o país e causa perplexidade mundial, da força-tarefa de 1.400 agentes que apenas ontem cumpriram 200 mandados de busca e apreensão contra 350 alvos em 10 Estados aos valores estratosféricos movimentados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de suas lavanderias de dinheiro. Só na badalada avenida paulista Faria Lima - considerada o epicentro financeiro e econômico do país, com sedes de grandes empresas, fundos de investimento, bancos e startups - estão localizados 42 alvos da operação policial, empresas, corretoras e fundos de investimento que operam fortunas para a organização criminosa.
Estimam os investigadores que o PCC controla milhares de postos de combustíveis em vários Estados e movimenta o dinheiro ilícito por meio de 40 fundos de investimento, com patrimônio líquido superior a R$ 30 bilhões. A investigação já apurou também que, entre 2020 e 2024, mais de R$ 10 bilhões em combustível foram importados pelos investigados. Segundo a Receita Federal, os fundos financiaram a compra de um terminal portuário, quatro usinas de álcool, 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis, como fazendas milionárias no interior de São Paulo.
Embora se perceba uma certa disputa de protagonismo pelas corporações federais e estaduais que comandam o trabalho investigativo, a megaoperação policial já revelou ao país e ao mundo a inacreditável dimensão atingida pelo crime organizado no Brasil, comparável às grandes máfias internacionais tanto pela ousadia quanto pela diversificação em negócios aparentemente legais que possibilitam a movimentação do dinheiro mal havido. Inserida na economia formal por meio de atividades regulares, a rede criminosa coordenada pelo PCC inclui a sonegação fiscal e a lavagem de dinheiro entre suas especialidades, além de crimes ambientais e estelionato.
O governo federal está fazendo um esforço para coordenar as ações, como ficou claro nas entrevistas coletivas dos ministros Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), Fernando Haddad (Fazenda), e do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, juntamente com a subsecretária de fiscalização da Receita Federal, Andrea Costa Chaves. Depois de anos de omissão e inoperância, é o mínimo que se espera do poder central para impedir que alguma disputa de vaidades comprometa esta grande oportunidade de aniquilar de vez a central criminosa que atormenta os brasileiros, ameaça a ordem pública e a própria democracia.
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