terça-feira, 5 de agosto de 2025


05 de Agosto de 2025
NÍLSON SOUZA

Maldita pressa!

Ninguém mais ignora que vivemos na era do imediatismo. Tudo é para ontem. Os inquilinos do planeta digital (todos nós) produzem e consomem informações na velocidade da luz, sem dar tempo para o cérebro avaliar com algum critério o que está entrando e saindo.

Maldito corretor ortográfico! - costumam dizer os apressados digitadores quando cometem alguma gafe.

Ora, a culpa nunca é dos algoritmos. É de quem não relê o que escreve antes de encaminhar a mensagem. É de quem não tem paciência (e, às vezes, nem vocabulário) para substituir uma palavra sugerida pela máquina. Sem contar a possibilidade de o corretor ter "aprendido" com base no histórico de quem o utiliza. Ou seja, quem erra é o ser humano.

Ainda não vi uma explicação plausível para aquele erro da data da Revolução Farroupilha nos uniformes escolares dos estudantes gaúchos, mas é bem provável que a gafe tenha se originado numa dessas digitações apressadas que não passou por revisão. Perdemos o hábito de revisar textos escritos. E falas também. Até as mensagens de voz são ouvidas em velocidade acelerada e respondidas sem muita reflexão. A revolução digital fez mais estragos do que a Farroupilha: vivemos em permanente estado de urgência.

E a pressa, como diziam nossos avós, não só é inimiga da perfeição como também pode levar a resultados indesejados. No tempo deles, até vigorava um emblemático ditado que ouso digitar aqui com redobrada vigilância sobre o corretor ortográfico: "Apressado come cru".

Claro, somos humanos. Podemos errar. Difícil é reconhecer isso. A gente sempre busca uma desculpa para as nossas precipitações, como argumentou aquele general diante do pelotão de julgamento (perdão, García Márquez):

Não era bem assim, foi apenas um pensamento digitalizado.

Ahã! Escreveu, não leu, o Xandão enquadrou.

Minha professora de francês do ginásio (período de estudo correspondente aos quatro anos finais do Ensino Fundamental) atribuía nossos erros à falta de atenção e à afobação para terminar as provas. E ilustrava sua crítica com uma historinha boba, mas significativa para a reprimenda. Uma lesma levou três meses para escalar um paralelepípedo e, quando estava chegando ao topo, escorregou e caiu. Indignada, desabafou:

- Maldita pressa!

NÍLSON SOUZA

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