
04 de Agosto de 2025
CARPINEJAR
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Qual notícia desejam que eu conte antes: a ruim ou a péssima? Não bastasse o lockdown provocado pela covid-19, um isolamento que durou de março de 2020 até meados de 2021. Não bastasse o maior desastre ambiental da nossa história, em maio de 2024, que cobriu mais de 90% do Estado, afetou 478 dos 497 municípios e gerou uma orfandade devastadora: mais de meio milhão de desabrigados, 183 mortos e 27 desaparecidos.
Não bastasse o crescimento galopante de 60% no número de falências decretadas entre nossas empresas, subindo de 30 para 48 registros, conforme dados da Junta Comercial, Industrial e Serviços do Rio Grande do Sul (JucisRS). Houve ainda um aumento de 15% em relação ao ano passado nos pedidos de recuperação judicial, com 92 casos.
Não bastasse que os comerciantes da Capital que revitalizaram o Quarto Distrito ou recriaram a orla precisem recomeçar seus negócios do zero. Não bastasse termos apresentado a maior queda de alfabetização do país, com decréscimo de quase 19 pontos percentuais de alunos letrados de 2023 para 2024 - de 63,4% para 44,67%, muito abaixo da média nacional de 59,2%.
Não bastasse sermos considerados um dos campeões brasileiros de feminicídio, com 36 ocorrências no primeiro semestre. Em apenas três meses, com o novo sistema digital de acolhimento de denúncias, foram concedidas duas mil medidas protetivas.
Não bastasse a inadimplência gigante, pela qual 41,66% da nossa população sobrevive com as contas atrasadas. Mais de 3,5 milhões de gaúchos estão inadimplentes, com R$ 22 bilhões em dívidas - o equivalente a 3,11% do nosso PIB. O valor médio por devedor corresponde a R$ 6 mil, próximo do dobro do piso regional, de R$ 3.698.
Não bastasse a perspectiva de diminuição populacional para menos de 10 milhões em estimativa do IBGE, em grande parte devido à migração para outros Estados. Não bastassem as chacinas em escolas, o desrespeito dentro de sala de aula, os lares desestruturados, os infanticídios constantes e pavorosos.
Não bastasse a desvalorização do brigadiano, revelada pelo Censo da Brigada Militar de outubro de 2023, com 18,2 mil entrevistados: 38,2% dos integrantes manifestaram a pretensão de deixar a corporação. É uma desistência emocional, uma desilusão com a carreira, um abatimento moral de quase 40% da tropa.
Professor não se sente seguro. Policial militar não se sente protegido. Onde estamos acertando? Não bastasse que nem o esporte esteja servindo de sedativo para a alma e de ópio para o povo. Deve ser a pior fase coletiva do futebol gaúcho, com Juventude no Z4 e Grêmio e Inter no entra e sai do descenso.
Ainda por cima, apesar da soma trágica de adversidades e dissabores - de jamais nos curarmos das catástrofes, de não devolvermos boa parcela das casas prometidas para os flagelados nem reconstruirmos inteiramente as cidades atingidas, muito menos reavermos as condições de trafegabilidade das estradas para o abastecimento -, somos a segunda unidade federativa mais prejudicada pelo tarifaço de Donald Trump: 85% dos produtos fabricados no Estado e exportados aos EUA, como tabaco, armas, carne e calçados, seguem taxados em 50%, fora da bendita lista de isenções.
O PIB gaúcho poderá recuar mais de R$ 1,5 bilhão em 2026. Projeta-se que mais de 20 mil postos de trabalho estejam ameaçados.
Quem vai lutar por nós?
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