sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Jaime Cimenti

Paradoxos, solidão e hipocrisia da sociedade de consumo

O romance A pirâmide do café (Bertrand Brasil, 238 páginas, R$ 28,00, tradução de Joana Angélica d’Avila Melo) marca a estréia do escritor nômade Nicola Lecca no Brasil. Lecca nasceu em Cagliari, na Itália, em 1976, e viveu bastante tempo em Reiquejavique, Visby, Barcelona, Veneza, Londres, Viena e Innsbruck.

Sua coletânea de contos Concerti senza orchestra foi finalista do Strega e, aos 27 anos, ele recebeu o Prêmio Hemingway de literatura. Ganhou outros prêmios importantíssimos e publicou, entre outros, Ritratto noturno; Ho visto tutto; Hotel Borg; Ghiacchiofuoco e Il corpo odiato. Seus livros já foram publicados em mais de 10 países da Europa.

A pirâmide do café foi eleito um dos melhores romances de 2013 pela revista italiana Panorama e nos traz a escrita límpida e firme do autor. É uma elegante fábula contemporânea capaz de mergulhar nos paradoxos, na solidão e nas hipocrisias da sociedade de consumo em que transitamos.

Aos 18 anos, o jovem Imi sai de um orfanato húngaro e realiza seu sonho de morar em Londres, onde, logo, consegue um emprego numa importante cafeteria. Ele acredita que o local é extraordinário, capaz de lhe oferecer ótimas oportunidades. Ele acha que as regras do local, o Proper Coffee, reunidas no Manual do Café, parecem escritas por mãos iluminadas.

Claro que a coisa não é simples assim. O jovem ingênuo, aos poucos, vai entendendo as complicações e as complexidades da vida em uma metrópole. A partir daí, a narrativa desenvolve uma forte crítica à sociedade e ao mercado de trabalho, no qual aquele que pensa diferente e busca novas soluções é quase sempre atacado pelos outros funcionários. O protagonista entende que é melhor parar de preparar o melhor cappuccino.


Com destreza narrativa, o autor interliga o mundo das descobertas do rapaz na metrópole com seu luxo e o universo das pessoas que moram no orfanato com sua pobreza. A falsa diplomacia inglesa e a rude franqueza húngara se encontram, se defrontam. Imi tenta encontrar a felicidade em meio aos cenários londrinos e a uma interessante galeria de personagens. Algumas pessoas vão ajudá-lo quando sua ingenuidade o colocar em maus lençóis. Ele entenderá a dureza e impiedade que estão por trás das regras do manual do café e de Londres.

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