Jaime Cimenti
Paradoxos, solidão e hipocrisia da
sociedade de consumo
O
romance A pirâmide do café (Bertrand Brasil, 238 páginas, R$ 28,00, tradução de
Joana Angélica d’Avila Melo) marca a estréia do escritor nômade Nicola Lecca no
Brasil. Lecca nasceu em Cagliari, na Itália, em 1976, e viveu bastante tempo em
Reiquejavique, Visby, Barcelona, Veneza, Londres, Viena e Innsbruck.
Sua
coletânea de contos Concerti senza orchestra foi finalista do Strega e, aos 27
anos, ele recebeu o Prêmio Hemingway de literatura. Ganhou outros prêmios
importantíssimos e publicou, entre outros, Ritratto noturno; Ho visto tutto;
Hotel Borg; Ghiacchiofuoco e Il corpo odiato. Seus livros já foram publicados
em mais de 10 países da Europa.
A
pirâmide do café foi eleito um dos melhores romances de 2013 pela revista
italiana Panorama e nos traz a escrita límpida e firme do autor. É uma elegante
fábula contemporânea capaz de mergulhar nos paradoxos, na solidão e nas
hipocrisias da sociedade de consumo em que transitamos.
Aos
18 anos, o jovem Imi sai de um orfanato húngaro e realiza seu sonho de morar em
Londres, onde, logo, consegue um emprego numa importante cafeteria. Ele
acredita que o local é extraordinário, capaz de lhe oferecer ótimas
oportunidades. Ele acha que as regras do local, o Proper Coffee, reunidas no
Manual do Café, parecem escritas por mãos iluminadas.
Claro
que a coisa não é simples assim. O jovem ingênuo, aos poucos, vai entendendo as
complicações e as complexidades da vida em uma metrópole. A partir daí, a
narrativa desenvolve uma forte crítica à sociedade e ao mercado de trabalho, no
qual aquele que pensa diferente e busca novas soluções é quase sempre atacado
pelos outros funcionários. O protagonista entende que é melhor parar de
preparar o melhor cappuccino.
Com
destreza narrativa, o autor interliga o mundo das descobertas do rapaz na
metrópole com seu luxo e o universo das pessoas que moram no orfanato com sua
pobreza. A falsa diplomacia inglesa e a rude franqueza húngara se encontram, se
defrontam. Imi tenta encontrar a felicidade em meio aos cenários londrinos e a
uma interessante galeria de personagens. Algumas pessoas vão ajudá-lo quando
sua ingenuidade o colocar em maus lençóis. Ele entenderá a dureza e impiedade
que estão por trás das regras do manual do café e de Londres.
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