sexta-feira, 5 de setembro de 2014


05 de setembro de 2014 | N° 17913
MOISÉS MENDES

Peçam socorro

Se os clubes fossem capazes de enfrentar sozinhos os vândalos, os racistas e os quadrilheiros nos estádios, tudo estaria resolvido. Questões complexas ficariam restritas à esfera esportiva e o mundo assistiria à volta da civilidade ao ambiente do futebol.

Se os clubes tivessem esse poder, um Gre-Nal voltaria a abrigar uma quantidade razoável de torcedores visitantes. Uma moça que anda com um macaquinho sob o braço não sairia gritando besteiras racistas contra um goleiro negro. E a Geral do Grêmio seria apenas uma torcida.

O controle seria exercido pelos exemplos dos bons modos, combinados com um pouco de repressão, ameaças e punições.

Mas não é assim. São os clubes, enredados em problemas que não conseguem resolver, que fomentam decisões como essa do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, que puniu o Grêmio.

É o autoengano de achar que tudo se resolve na esfera do futebol e com punições severas. O pretenso protagonismo da Justiça Desportiva acaba sendo mais teatral do que consequente.

Os clubes e o STJD deveriam ter a humildade de pedir socorro. E o STJD poderia ser menos simplista, na punição dos clubes, como se essa radicalidade fosse capaz de transmitir algum didatismo. É óbvia demais a explicação de que os auditores do STJD cumprem a sua parte.

A decisão de punir os clubes é cômoda. Como é cômoda a intenção do Grêmio de desqualificar toda a Geral, e não só os grupos que se apoderaram da torcida.

Todos os 5 mil torcedores que se acomodam na área da Geral são vândalos e racistas e devem ser excluídos, como grupo organizado, do espaço que ocupam na Arena? É a tática das piores guerras. Coitados dos que estiverem perto dos que devem ser abatidos.

O Grêmio repetiu com a sua torcida, para fazer média com o STJD, o que o Tribunal acabou por fazer com o próprio Grêmio. Ratificou a decisão do Tribunal, de que é preciso punir todos, para que alguns não continuem perturbando nos estádios.

Clubes e STJD, peçam ajudam. Socorram-se dos que estudam a violência e o racismo (inclusive os encobertos), fora e dentro dos estádios e até dentro do STJD.

O Tribunal deve esclarecer, e logo, sua posição sobre a atitude do auditor que postou no Facebook a imagem de uma criança negra enrolada num rótulo de Pepsi-Cola.

A alta Corte do futebol está irremediavelmente desmoralizada. Se o Grêmio foi punido por causa de uma torcedora que disse bobagens, o STJD deve ser suspenso pelo ato de um auditor que faz “brincadeira” racista?

Terá o Tribunal que transferir a outras instituições a tarefa de julgar casos na área do futebol?

Esse auditor poderia experimentar o princípio “moralizador” da tese que ele mesmo defendeu e que tirou o Grêmio da Copa do Brasil. Ou o STJD está acima de julgamentos e pode continuar acolhendo um juiz que se diverte com as imagens de crianças negras?


Torcedora e auditor deveriam, juntos, prestar serviços comunitários na periferia. De preferência, numa vila pobre com maioria de moradores negros. Para que o didatismo pretendido pelo STJD realmente funcione. E que os dois saiam dali adultos.

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