04 de setembro de 2014 |
N° 17912
LUCIANO ALABARSE
TESOURO INESPERADO
Quando Marisa Monte, por motivo
de viagem, não gravou Me Dê Motivo, abertura do disco dedicado à obra de
Michael Sullivan, os produtores convenceram Adriana Calcanhotto a assumir a
canção. Ponto para eles. Adrix, em uma de suas vindas a Porto Alegre, me falou
do CD, mas nunca calhou de encontrá-lo nas lojas. Foi numa viagem a Belo
Horizonte, procurando livros do Caio F. para presentear amigos mineiros, que o
encontrei, meio abandonado, numa prateleira da Saraiva. Agarrei firme o tesouro
inesperado.
Mais Forte que o Tempo é um
tributo belíssimo. Cantores como Ney Matogrosso, Zélia Duncan e Arnaldo
Antunes, entre muitos, cravam sabor de novidade às regravações. Por finalmente
nivelar as vozes de Gal Costa e Tim Maia, só a mixagem de Um Dia de Domingo
valeria o disco. Mas quem rouba a cena é Alice Caymmi, a mais bonita voz da
nova geração de cantoras brasileiras.
A sobrinha de Nana arrebenta, em
gravação visceral de Abandonada. A canção dá voz a uma mulher que, chutada como
uma cachorra, se humilha em versos tristíssimos. Grita, suplica e implora
migalhas de um amor recusado. Nem Adele H rastejou assim. Quem nunca traiu ou
foi traído, que atire a primeira pedra no desespero alheio. Esqueça Gadús e
Carolinas. E, por favor, preste atenção em Alice Caymmi.
Quando viajo, escolho sempre um
livro para me fazer companhia. Desta vez, segui o conselho de Bertolt Brecht e
encarei As Aventuras do Bom Soldado Svejk, do Jaroslav Hasek, um dos três
livros mais importantes do século 20. Opinião do Brecht. O checo Hasek dissipou
sua vida bebendo todas, mas nos legou um petardo literário poderoso. Seiscentas
páginas maiúsculas. O Svejk do título é um soldado ingênuo, exagerado e
cativante, que muitos comparam ao Dom Quixote, de Cervantes.
Das maiores cantoras do mundo,
fadista e diva, Mísia mostra reverência e invenção em São 3, show que abre o
Porto Alegre Em Cena, centrado em Lupicínio, Caymmi e Cartola. Imperdível.
MESMO.
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