15
de novembro de 2013 | N° 17615
DAVID
COIMBRA
Leve-me a Paris
Uma
amiga minha, a arquiteta Cristina Camps, circula pela cidade dentro de uma
camiseta com a seguinte inscrição: “Take me to Paris, mon amour”.
Uma
frase conhecida, mas, vendo a Cris movendo-se pelo mundo com aquela camiseta,
pensei... no Lula. Lula, o ex-presidente.
Na
verdade, pensei no Lula quando ele ainda não era presidente, quando o vi em
pessoa pela primeira vez, em 1989. Lula concorria à Presidência da República
naquela eleição única da história do Brasil. Era um jovem de jeans desbotados,
barba e cabelos negros. Entrevistei-o no salão paroquial da Igreja São José, no
centro de Criciúma. A inteligência e a vivacidade lhe faiscavam dos olhos, mas
Lula ainda não havia aprendido que as pessoas se afastam de quem usa o sarcasmo.
Aprendeu depois.
Já naquela
época, me perguntava, e não lembro de ter perguntado a ele, se Lula havia
participado da criação do seu slogan de campanha:
“Sem
medo de ser feliz”.
Será
que Lula cunhou aquela frase? Ou a achou brilhante quando os publicitários a
apresentaram? Sem medo de ser feliz. É mais do que brilhante; é genial. É um
resumo da vida. Porque, para ser feliz, as pessoas têm de arriscar. Têm de
fazer o que outros não fazem.
A
proposta de Lula era essa. Era ser diferente. Arrisque-se, ele gritava ao
eleitor. Tente. Não fique apenas com o comodismo, com a pasmaceira da segurança.
Não tenha medo de ser feliz. Vá em frente, saia do normal, faça o que os outros
não têm coragem de fazer. Vá a Paris! Leve o seu amor a Paris!
Por
que não?
Porque
as pessoas sentem medo. Elas pensam: um dia faço isso, um dia enlouqueço e levo
minha amada a Paris, a Lisboa, a Madri, a Londres. Um dia, agora não. Agora,
preciso trabalhar. Tenho responsabilidades. Tenho ocupações. Não têm nada disso:
têm medo.
As
pessoas sentem medo da felicidade, e as coisas vão acontecendo, e você vai se
envolvendo no ramerrão do dia a dia, e a vida vai passando, e vai passando, e
logo é tarde demais.
Sem
medo de ser feliz. Lula deve ter influenciado na criação daquela frase, ou no mínimo
compreendeu seu sentido profundo quando a ouviu pela primeira vez. Não é à toa
que, três eleições depois, foi empossado presidente da República. Sem medo de
ser feliz. Take me to Paris, mon amour. A vida pode ser diferente. A vida pode
ser melhor.
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