14
de novembro de 2013 | N° 17614
EDITORIAIS
ZH
SISTEMA FALIDO
Com
a palavra, o desembargador da 7ª Câmara Criminal do Estado, José Antônio Daltoé
Cezar: O Estado está se demitindo da sua função, que é de cuidar da segurança
pública, e os bandidos continuam nas ruas. Não tem como prender criminosos se
não existir presídio. Tem gente que diz: a polícia prende e o Judiciário solta.
O Judiciário não solta. A verdade é que não tem onde prender.
A
contundente afirmação do juiz, no contexto da reportagem que registra 4,3 mil
condenados transitando livremente entre a população do Estado, o equivalente à
lotação do Presídio Central de Porto Alegre, é uma verdadeira certidão
(negativa, no pior sentido) de falência do sistema prisional gaúcho.
Por
absoluta falta de espaço – e por visão humanitária dos magistrados, ainda que
isso cause compreensível contrariedade das vítimas –, estão sendo libertados
condenados por roubo, tráfico de drogas e homicídios, para cumprir prisão
domiciliar ou usar as polêmicas tornozeleiras eletrônicas.
Ainda
que a maioria dos beneficiados pela ilegalidade chancelada pela Justiça seja de
delinquentes considerados menos perigosos, em fase final de cumprimento da pena
ou condenados por crimes de baixo potencial ofensivo, a verdade é que tal
liberalidade contribui para aumentar a sensação de insegurança dos cidadãos.
É
tão grave a situação, que o Ministério Público já cogita ingressar com ações de
improbidade administrativa contra os gestores da Superintendência dos Serviços
Penitenciários e da própria Secretaria de Segurança Pública.
A
resposta do Executivo é tímida demais para um momento de tamanha gravidade.
Alega a Susepe que a adoção de tornozeleiras eletrônicas permite que as vagas
do semiaberto sejam extintas, não havendo, portanto, necessidade de mais
investimentos nesse tipo de instalação prisional.
Decididamente,
não é uma resposta satisfatória para a questão. Como a população pode se
satisfazer com uma solução dessas, quando vê a criminalidade aumentar na mesma
proporção em que os presos condenados são mandados para casa por falta de
cárcere? Imagine-se, por exemplo, os familiares de uma vítima de homicídio
tendo que compartilhar os mesmos espaços públicos com o autor do crime. De que
adianta saber que ele estará usando a tal tornozeleira?
Pode
ser que presídio não dê voto, como se costuma dizer, mas a insegurança
certamente tira. Mas nem cabe examinar esta questão sob o aspecto eleitoral,
ainda que estejamos na antevéspera de mais um pleito. O que se espera é uma
resposta mais pragmática do governo do Estado na forma de investimentos
efetivos no sistema prisional, de forma que garanta instalações dignas aos
condenados e livre os cidadãos deste convívio promíscuo com criminosos.
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