13
de novembro de 2013 | N° 17613
ARTIGOS
- Christopher Goulart*
Passado a limpo
O
Brasil acompanha de perto a exumação de Jango. Operação inédita na nossa história
em se tratando de um presidente da República que, deposto por um golpe civil-militar
subversivo, morreu de forma suspeita na solidão do exílio.
Vale
lembrar, sem honras de chefe de Estado, sem luto oficial. Pior do que isso, num
primeiro momento, o governo militar negou a possibilidade de seu corpo
ingressar por terra, sendo liberado depois de muita insistência. Era o medo da
comoção popular. Meu avô morreu como um peão perdido, sem encontrar o retorno
para sua estância. O silêncio foi a versão oficial do governo.
O
fato é que procuramos desvendar dois assassinatos: o físico e principalmente a
sua eliminação política. Por que João Belchior Marques Goulart durante tantos
anos foi condenado ao limbo da História? Diziam na época de radicalismos de um
mundo dividido pela Guerra Fria que a justificativa para o golpe seria o temor
ao comunismo. Jango havia se comprometido perante a população brasileira com as
reformas de base.
Queria
reformar profundamente as estruturas e instituições arcaicas do nosso país, já viciadas
por longas décadas. Logo o principal herdeiro político daquele que a vida
inteira perseguiu os comunistas, o presidente Vargas, era tachado de “comunista”.
Cinquenta
anos é tempo suficiente para evoluirmos como humanidade e revisarmos nossas
convicções políticas e ideológicas. Passar a limpo uma história que durante 21
anos de ditadura procurou justificar o injustificável.
Basta
um olhar sobre as principais reivindicações de nossa população atual- mente,
opinião pública de forma geral, e chegaremos à conclusão de que as reformas do
Estado brasileiro mais do que nunca são necessárias. Existem momentos cruciais
em nossas vidas em que necessitamos quebrar paradigmas e dar um salto para o
progresso. Neste momento, vale lembrar Darcy Ribeiro, quando afirmou que “Jango
caiu por seus acertos e não por seus erros”.
Nossas
iniciativas se movem sem raiva nem rancor. Através da exumação, partimos do
princípio de que é fundamental o direito a memória, verdade e justiça para aqueles
que sofreram perseguições e arbitrariedades por qualquer governo de exceção. Faz
parte da justiça de transição e do fortalecimento da democracia. Repudiamos o
revanchismo.
O
foco reside na construção de um futuro mais humanitário, honesto e transparente.
Dessa forma, acreditamos estar prestando uma enorme contribuição para todos os
brasileiros.
*VEREADOR
SUPLENTE DE PORTO ALEGRE
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