terça-feira, 12 de novembro de 2013


12 de novembro de 2013 | N° 17612
DAVID COIMBRA

O fogo de Camões

O fogo apocalíptico da paixão já ardeu no seu peito? O fogo abrasador da paixão? O fogo que arde sem se ver de Camões, já?

Decerto que sim.

Mas não precisava ser tão doído. A vida não tinha de ser de chamas e ardor. Podia ser, simplesmente, brisa. Podia ser dormir com o canto dos grilos e acordar com o chilrear dos passarinhos. Podia ser apenas tardes mornas com os amigos, o vaivém do mar, uma preguiça que amolece, a carícia suave da mulher amada.

Não seria tão bom?

Ah, mas quem diz que as pessoas prescindem da paixão que consome? As pessoas precisam de algum sentimento arrebatador em suas vidas. Então, se um homem não pode se entregar a uma rainha de pele dourada, a uma deusa lânguida do amor, a uma felina de pernas longas, o que um homem faz?

Ele se entrega a um time de futebol.

Donde, tantas loucuras cometidas por torcedores.

O futebol é o sentido sentimental da vida de muitos. Mas não de todos. Alguns personagens do futebol sabem que o futebol não é mais do que um jogo. Inclusive alguns personagens ilustres, como Renato.

Na partida contra o Cruzeiro, domingo passado, Renato protagonizou um lance que demonstra toda a sua correta e inteligente compreensão do jogo. O Grêmio ia cobrar um lateral, e o jogador Egídio, do Cruzeiro, voltava correndo da pista atlética para o campo. Renato, por brincadeira, segurou o jogador pela cintura, como se estivesse tentando impedi-lo de retornar. Fez aquilo sorrindo, Egídio compreendeu e sorriu também. A torcida, não. A torcida vaiou.

Era um jogo que podia decidir o título do Brasileirão, o Grêmio perdia, e Renato, ainda assim, teve presença de espírito para fazer a blague. Quer dizer: Renato sabe que um jogo de futebol, por mais dinheiro e sensação de poder que envolva, será sempre isso mesmo: um jogo de futebol. E um jogo de futebol, mesmo quando se perde, pode ser leve e divertido. Como deveria ser toda paixão.

Quem fará o que é importante?

Suponho que o Inter perderá Damião. Ele parece meio desanimado no clube. Pudera: foram tantas chances que teve de ir para a Europa, todas frustradas pela sensata ânsia do Inter em mantê-lo.

Verdade que Damião quis ficar, mas será que, agora, em perspectiva, não estará achando que perdeu tempo no Brasil? Será que não sonha em ser ídolo na Velha Álbion, para onde quase foi umas tantas vezes?

Pode ser.

É só uma impressão minha, mas é uma impressão sólida: Damião provavelmente não ficará, se vier uma proposta razoável de fora.

Então, o que acontecerá com a dupla Gre-Nal?

Nem Grêmio nem Inter terão jogadores afeitos a marcar gol.

Um time vencedor não se faz sem goleadores. Centroavante. O jogador mais importante de um time de futebol é o centroavante.

Como gastar seu dinheiro

Eu, se sou dirigente de futebol, gasto o dinheiro que o meu clube dispõe da seguinte forma:

Em primeiro lugar, contrato um centroavante.

Em segundo lugar, outro centroavante.

Em terceiro, mais um centroavante.

Se sobrar algum, bom, aí sim, eu contrato um centroavante.

O nove


O centroavante, que digo, não é centroavante, centroavante. Não é o 9 ortodoxo, o plantado na marca do pênalti, o Dario, o Alcindo, o Claudiomiro, o Jardel. Claro, se forem esses, melhor, mas não é só desse tipo de centroavante que falo. Falo do goleador. De um Jonas, de um Walter, de um Paulo Nunes, de um Renato, de um Nilmar. Repito: um time não se torna vitorioso sem ter quem saiba fazer gol.

Nenhum comentário: