quinta-feira, 1 de março de 2012


Rogério Gentile

Professores reprovados

SÃO PAULO - O ensino público em São Paulo, no que depender da engenhosidade do governador Geraldo Alckmin, não corre o menor risco de melhorar nos próximos anos.

Pela terceira vez seguida, diante da dificuldade em preencher as vagas abertas no corpo docente das escolas, o governo paulista autorizou a contratação de professores reprovados em um teste de seleção aplicado pelo próprio Estado.

Ou seja, o contribuinte paulista vai continuar a pagar alguém para ensinar aquilo que não sabe para os seus filhos. Será que era esse o tipo de solução que o tucano se propunha a oferecer quando, na eleição de 2010, dizia que "governar é enfrentar problemas e concretizar sonhos"?

A falta de professor não é um tema novo. Em 2007, o Conselho Nacional de Educação divulgou um relatório no qual tratava do assunto e dizia temer um verdadeiro "apagão" no futuro. De fato, estima-se que haja atualmente uma carência de mais de 300 mil docentes no país, sobretudo para áreas como matemática, física, biologia e química.

As razões para esse desinteresse pela profissão são várias e tão antigas quanto óbvias. A carreira perdeu prestígio, as faculdades são, muitas vezes, ruins e desestimulantes e, claro, o salário é baixo -um professor iniciante recebe R$ 1.988,83 em SP, valor semelhante à média que se paga, por exemplo, para um marceneiro (R$ 1.969) e para um serralheiro (R$ 1.927), segundo o Datafolha.

Mas será que simplesmente reduzir as exigências e contratar qualquer um, como faz o governo, é a melhor maneira de encarar a situação?

Alckmin costuma dizer que o Estado é o motor do país. Pois, em vez de desistir da qualidade e se conformar com a debilidade do ensino público oferecido aqui, deveria criar algum tipo de estímulo para tentar atrair os melhores formandos para a rede estadual. E utilizar a USP, a Unicamp e a Unesp para reciclar e recapacitar esses professores que há anos vão mal nos testes de seleção.

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